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Bom para o gado, bom para o bolso!

Bom para o gado, bom para o bolso!

09/11/2023

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Bom para o gado, bom para o bolso!

É notável o aumento significativo da importância dada às boas práticas de produção na cadeia de carne bovina, além de um consumidor cada vez mais exigente com a qualidade do produto final.

Muitos são os pontos de atenção que o produtor pode ter para oferecer maior qualidade de vida à sua boiada. Mas até onde vai a correlação entre bem-estar animal e a rentabilidade da propriedade?

Afinal, a adoção de práticas de bem-estar pode, realmente, aumentar a produtividade e trazer margens maiores para sua operação?

Explore nesse artigo algumas das principais boas práticas na pecuária de corte e como elas podem impactar diretamente o seu negócio!

Modelos de produção

No Brasil, existem basicamente três formas de terminação de bovinos: a pasto, semiconfinamento e confinamento.

De modo geral, podemos afirmar que as criações a pasto proporcionam condições menos estressantes para os bovinos, uma vez que é um ambiente mais próximo do natural. Em sistemas confinados, ocorrem mudanças como, por exemplo, a troca de ambiente repentino, aumento na densidade populacional, mistura de lotes, variação de dietas com maior concentração de grãos, entre outros fatores que podem influenciar no comportamento dos bovinos. Esses fatores, individualmente ou concomitantes, podem potencializar os níveis de estresse, interferindo na homeostase e no status imunológico desses animais.

Uma pesquisa conduzida por MACITELLI et al. (2020) analisou como a quantidade de espaço oferecida aos animais em confinamento afeta seu bem-estar, através da testagem de três diferentes concessões de espaço: 6, 12 e 24 metros quadrados por animal. Os resultados mostraram que animais mantidos em baias com 24 metros quadrados por animal trouxeram um lucro operacional estimado de R$ 109,00 por animal. Em comparação, animais mantidos com 6 e 12 metros quadrados por animal obtiveram lucros de R$ 80,9 e R$ 102,0 por animal, respectivamente.

Além disso, as baias com mais metros quadrados disponíveis ofereceram condições de alojamento superiores, com menor produção de poeira durante o período seco e menos acúmulo de lama durante o período chuvoso. Maiores densidades também podem acarretar aumento nas disputas territoriais e relações de dominância, principalmente em lotes de bovinos inteiros, o que pode ocasionar mais lesões e acidentes, além de que, altas lotações podem dificultar o acesso ao cocho para uma parcela dos animais, podendo ocasionar em aumento no índice de refugos de cocho.

Todas essas situações essas afetam diretamente o ótimo desempenho animal, podendo refletir em perdas no final da operação se mal gerenciadas.

Homeostase

Os mecanismos homeostáticos são responsáveis por manter as condições constantes do meio interno, regulando a temperatura corporal, níveis de água, eletrólitos, pH sanguíneo e outras funções vitais do organismo.

Uma vez que esse sistema sofra com algum agente estressor, como desidratação ou exposição a temperaturas elevadas, um dos primeiros comportamentos observados nos bovinos é a redução do consumo de alimentos. Além disso, situações estressantes resultam em uma menor absorção de nutrientes, acarretando menor ganho de peso e maior suscetibilidade a doenças.

Portanto, a atenção à homeostase dos bovinos é uma decisão estratégica que pode melhorar algumas métricas do negócio, visto que interfere diretamente no potencial produtivo desse animal.

Existem diversas estratégias que podem ser adotadas para prezar pela hidratação e controle térmico do rebanho, visando o bem-estar dos animais e, consequentemente, evitando perdas: aumentar a disponibilidade de sombra dentro dos currais de engorda, através da instalação de sombrites; se certificar da boa distribuição e vasão dos bebedouros de água, além da qualidade da água fornecida; a presença de sistemas de irrigação, que além de umidificar o ambiente favorece a contenção da poeira que pode ser prejudicial à saúde dos bovinos confinados nos períodos secos.

Atenção ao transporte

Esse é um evento sensível que engloba desde o embarque dos animais na propriedade até o desembarque, seja no frigorífico, no caso do gado terminado, seja em outra propriedade como é no caso do transporte de bovinos jovens.

Os hematomas em bovinos são responsáveis por perdas econômicas significativas na cadeia produtiva, pois levam à depreciação do valor comercial das carcaças e cortes cárneos, (veja mais no nosso outro artigo).

Além das lesões as quais os animais estão sujeitos no deslocamento, durante o transporte os bovinos são expostos a diferentes desafios, como a privação de alimento e água, o que estimula a mobilização das reservas de gordura e desencadeia uma resposta de estresse, além de afetar negativamente o ecossistema ruminal, levando à morte de microrganismos e à liberação de endotoxinas microbianas. Estudos, como o de Deng et al (2016), demonstraram que bovinos submetidos a situações de estresse tiveram um ganho de peso até 15% menor em comparação àqueles em situações normais.

Figura 1. Níveis de cortisol e hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) antes e após o transporte.

Fonte: DENG et al.,2016/Elaborado por Scot Consultoria

Durante um experimento, Deng também analisou uma boiada que realizou um deslocamento de 14 horas, percorrendo uma distância de 1000 km, onde observou-se que, além das perdas pós transporte, os bovinos voltaram a apresentar ganho de peso apenas após sete dias, quando retomaram ao seu peso pré-embarque.

Figura 2. Mudanças no peso corporal (kg) antes e após o transporte.

*Média desvio padrão, P< 0,05

Fonte: DENG et al.,2016/Adaptado: Scot Consultoria

Bem-estar animal na prática

Muitas vezes, fazer alterações no modus operandi do negócio pode parecer desafiador, principalmente se as mudanças propostas forem muito complexas ou custosas.

É por isso que queremos te convidar a enxergar esse desafio por outro ângulo, identificando pequenas alterações que podem gerar grande melhoria na qualidade de vida dos bovinos e, consequentemente, trazer benefícios financeiros para o seu negócio!

Veja um resumo com os principais pontos de atenção a serem analisados:

  • Conforto

Um ambiente adequado aos animais é essencial. Isso pode incluir o fornecimento de abrigo contra condições climáticas adversas (chuva, vento, calor excessivo ou frio intenso) e a limpeza apropriada do recinto.

  • Espaço

Ambientes superlotados podem aumentar o estresse, competitividade dentro do lote, dificuldade de acesso ao cocho e bebedouro, além de facilitar a disseminação de doenças. Procure garantir que o espaço seja adequado para permitir o descanso, a movimentação e a expressão dos chamados comportamentos naturais dos animais.

  • Manejo

O uso de métodos racionais para lidar com os bovinos, evitando o uso excessivo de força física, equipamentos lesivos e barulhos desnecessários, pode impactar positivamente em atividades como a apartação e movimentação dos animais, facilitando a resposta do bovino e reduzindo o estresse do animal e do manejador.

  • Alimentação e hidratação

Garantir uma dieta balanceada e acesso constante à água limpa e fresca também é importante. Consultar um profissional de nutrição animal para fornecer uma dieta e suplementação adequadas pode otimizar o ganho de peso e a saúde dos animais.

  • Sanidade

A implementação de programas de monitoramento regulares e cuidados veterinários são outros fatores cruciais para identificar e tratar precocemente problemas de saúde nos bovinos. Isso inclui protocolos de vacinação, controle de parasitas e exames periódicos, através da ronda sanitária. “É mais barato prevenir do que  tratar”.

  • Currais de espera e recuperação

Esses currais são espaços projetados para reduzir o estresse dos animais antes ou após o transporte. Um piquete amplo para movimentação e descanso, permite a observação de problemas de saúde e lesões, possibilitando a intervenção veterinária quando necessário.

Após o período de aclimatação, os animais podem ser reintroduzidos ao rebanho principal de forma cuidadosa, minimizando o estresse e as possíveis interações agressivas.

Considerações finais

É importante compreender que o bem-estar animal é um aspecto chave para alcançar o sucesso econômico na cadeia pecuária. Cuidar da qualidade de vida da sua boiada não é apenas um gesto ético, mas também uma ação estratégica que pode melhorar as métricas dentro da sua propriedade.

Gostou do que viu por aqui? Então acesse o nosso outro artigo sobre bem-estar animal.