O Brasil figura entre os maiores produtores de carne bovina do mundo e o crescimento da pecuária brasileira é notório. A produção de carne bovina cresceu em torno de 58% nos últimos 20 anos (USDA).
Nessa mesma linha, ganha espaço o progresso qualitativo dentro da atividade pecuária, que preza pela produção de um alimento de qualidade, que agregue sanidade e sustentabilidade, com foco no bem-estar do rebanho.
Essa melhoria em qualidade está relacionada a alguns fatores que podem ser manejados pelo pecuarista dentro da porteira e que irão refletir em maior rentabilidade na hora de mandar a boiada para abate.
As condições de estresse impostas aos bovinos, por procedimentos ou instalações inadequadas durante os manejos pré-abate, refletirão diretamente na qualidade da carne e no rendimento da carcaça.
Preservar o bem-estar dos animais significa produzir mais e melhor
O estresse é um mecanismo de defesa do organismo e o resultado em submeter os animais a situações estressantes serão observados na hora de medir a qualidade da produção.
Bovinos possuem uma reserva de energia que, após o abate, será utilizada para a transformação dos músculos em carne, em um processo conhecido como rigor mortis. Em animais estressados, essa reserva é consumida pelo animal antes do abate, e sem a energia necessária a transformação não acontece e o pH da carne fica alto.
Essa alteração metabólica é responsável pelo escurecimento e endurecimento da carne, além de diminuir o tempo de prateleira do produto, uma vez que o pH alto facilita a entrada e ação de microrganismos responsáveis pela deterioração.
Além das perdas em qualidade, bovinos estressados correm maior riscos de sofrer contusões por quedas ou disputas, diminuindo também o rendimento da carcaça ao abate.
A falta desse do conhecimento sobre essa situação faz com que muitos pecuaristas acabem por atribuir as consequências do manejo inadequado a outros fatores, como a genética e/ou nutrição, não levando em conta a importância do bem-estar animal como prática de manejo para o progresso qualitativo da produção.
A seguir, relacionamos alguns cuidados simples que, se adotados, irão contribuir para a eficiência produtiva do seu rebanho:
Homogeneização dos lotes
Apesar do nome complicado, homogeneização dos lotes nada mais é que a separação do gado em lotes uniformes divididos por categoria, sexo e peso.
Esse cuidado na padronização deve estar entre as boas práticas de bem-estar animal na fazenda, e deve ser observado, pois evita disputas por hierarquia e diminui a dominância sobre animais menores, minimizando os riscos de brigas e consequentes contusões, além de evitar a disputa por alimento no cocho, garantindo a distribuição de nutrição adequada para todos os animais.
Água limpa
Outro aspecto muito importante é o fornecimento de água limpa para o gado.
A limpeza periódica dos bebedouros é um ponto muito relevante no manejo, pois aumenta a ingestão de alimento, potencializa o ganho de peso, além de contribuir para o bem-estar dos animais.
Instalações adequadas
O curral deve ser construído ou então adaptado de forma a proporcionar maior eficiência, segurança e conforto para todo o manejo a ser realizado dentro da porteira.
É necessário que a seringa do embarcadouro e as paredes da rampa sejam vedadas nas laterais e também devem estar livres de parafusos e pregos, que podem provocar lesões e ferimentos, que além de comprometer o bem-estar dos bovinos, muitas vezes evoluem para abcessos na carcaça e causam perdas produtivas, devido ao descarte das áreas afetadas após o abate.
A rampa para acesso deve ser suave, com o último lance na horizontal. A recomendação de medidas é de seis metros de comprimento para a rampa e dois metros para o lance horizontal.
Para otimizar o consumo dos suplementos, os cochos devem ser cobertos e posicionados na pastagem, facilitando, assim, a visita diária para inspeção do gado.
Descorna
A descorna dos animais é uma prática que, além de facilitar e tornar mais seguro o manejo com o gado, também evita lesões por brigas, diminui a disputa por espaço no cocho e nos bebedouros e facilita o transporte.
Considerações finais
A maior rentabilidade da pecuária por melhoria no rendimento de carcaça e qualidade da carne é reflexo não apenas de fatores que vêm depois da porteira, e estão relacionadas aos aspectos no manejo racional dentro da fazenda, que são de extrema relevância para garantir o incremento em qualidade.
A produção de carne com segurança, sanidade e sustentabilidade, levando em conta todos os aspectos do bem-estar dos animais, é cada vez mais exigida pelo mercado consumidor, que, consciente do seu papel na cadeia produtiva de carne, exige o cumprimento e aderência às normas de produção racional.
Os selos de rastreabilidade, que indicam a procedência e a forma de produção do alimento, ganham cada vez mais importância no mercado e, por sua vez, a produção que atenda à essas exigências tem maior potencial para a conquista de novos mercados dentro e fora do Brasil. Soma-se a isso o valor agregado vinculado ao produto.
Observar as determinações para o manejo racional com foco no bem-estar animal traz benefícios para a cadeia produtiva como um todo e contribui para a boa imagem da pecuária de corte nacional frente aos mercados interno e externos.