A alta competitividade da produção de bovinos de corte traz à tona a necessidade constante de investimento em novas técnicas e tecnologias, buscando o aumento da eficiência produtiva.
Paralelo a isso, observamos emergir um novo perfil de consumidor, cada dia mais exigente em relação à qualidade dos alimentos que consome, com interesse crescente pelas práticas adotadas na produção e sobre as condições às quais os animais foram submetidos durante o processo produtivo.
Sabe-se, hoje, que a qualidade da carne está diretamente relacionada à melhoria da qualidade de vida dos bovinos. Animais criados com respeito e sob condições adequadas produzem com maior eficiência e qualidade.
Cientes do seu papel dentro desse contexto, pecuaristas conduzem uma transformação humana e tecnológica, buscando, além de oferecer um produto com maior valor agregado, obter o máximo desempenho na sua produção.
Bem-estar animal em sistemas de produção intensiva
No processo de intensificação da produção de bovinos de corte, a utilização do confinamento de bovinos como ferramenta produtiva reduz possíveis perdas durante o período da seca, otimiza a área de produção e melhora a gestão da atividade, incluindo a capacitação da mão de obra, aumentando, assim, a eficiência produtiva da fazenda.
Nesse sistema, a relação do animal com o ambiente é enfatizada, pois é um indicativo das adaptações biológicas e fisiológicas, tornando fundamental a observância das boas práticas de bem-estar animal.
Considerando que o bem-estar dos bovinos está relacionado ao nível de conforto proporcionado a eles, o estresse causado por um espaço inadequado, temperaturas elevadas, radiação, ruídos excessivos, baixa sanidade e sofrimento desnecessário (medo, angústia, tédio, entre outros) afetam a qualidade de vida do animal.
E, além de todo o cuidado nos manejos diários, o pré-embarque e o transporte também merecem atenção na melhoria do bem-estar animal.
Essas diretrizes podem ser encontradas no manual de boas práticas da Embrapa.
Qualidade de vida do animal e o reflexo na qualidade da carne
Quando o gado é mal manejado, o metabolismo dos bovinos é afetado, desencadeando alterações que afetam a qualidade do produto final.
Pode-se ler mais sobre as consequências de um manejo inadequado na qualidade da carne em Mas afinal, por que o pH da carne é tão importante? publicado aqui, anteriormente.
Além disso, esses maus manejos podem causar lesões no couro e na carne dos bovinos, gerando perdas produtivas para o pecuarista.
Componentes necessários para a promoção do bem-estar animal
Sombra, água de qualidade e em volume suficiente, bebedouro e cocho de fácil acesso, boa alimentação e um ambiente limpo e livre de doenças são fatores que promovem a melhora da qualidade de vida dos bovinos, evitando, além de doenças, situações de estresse provocadas pelo desconforto.
Outro ponto é respeitar o comportamento natural dos bovinos, com espaço suficiente, companhia de animais da mesma espécie e instalações adequadas, para mantê-los mais sociáveis e menos agressivos.
Sistemas de produção como o ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) e o sistema silvipastoril, que integra árvores, pastagem e animais, são alternativas que oferecem conforto e bem-estar aos bovinos. O conforto térmico, por meio das sombras das árvores, e o espaço suficiente para que esses animais possam expressar seus comportamentos naturais são pontos muito positivos desses sistemas de produção.
O estresse por calor, por exemplo, pode fazer com que os animais reduzam e, em alguns casos, até paralisem a sua alimentação.
Isso acontece porque o organismo do bovino “acende um alerta” para que ele diminua a produção de calor, visando a manutenção do equilíbrio fisiológico.
Comendo em menor quantidade, menos calor é produzido pelo corpo dos animais, e o conforto térmico aumenta, mas, em contrapartida, a produção cai.
Certificação de adoção de boas práticas de bem-estar animal
Como foi dito, o consumidor está cada vez mais preocupado em entender como é produzido o alimento que ele leva pra casa.
Existem certificados específicos, que atestam a observância às boas práticas de bem-estar animal durante o processo de produção.
Esses certificados podem ser destinados à diversos elos da cadeia produtiva de carne bovina, como produtores individuais ou grupos de produtores, indústrias de beneficiamento, comercializadores de bovinos e até mesmo restaurantes. Existem vários órgãos que estão aptos a emitir essa documentação, entre eles o Certified Humane Brasil, Ecocert Brasil.
Manter a equipe bem treinada para a melhor condução do manejo também é de suma importância.
Pequenas ações de melhoria, que geralmente são simples e podem ser adotadas com baixo ou nenhum custo adicional, como a limpeza constante de cochos e bebedouros, instalação de arranhadores, manutenção da estrutura local, entre outras, são responsáveis por grandes transformações na qualidade do bem-estar dos bovinos e influenciam diretamente na qualidade e na eficiência da produção.