COMPLEXO TENÍASE / CISTICERCOSE: PREJUÍZOS PARA TODOS - Minerva Foods | Criando conexões entre pessoas, alimentos e natureza.
COMPLEXO TENÍASE / CISTICERCOSE: PREJUÍZOS PARA TODOS

COMPLEXO TENÍASE / CISTICERCOSE: PREJUÍZOS PARA TODOS

18/03/2021

Compartilhar em:

Um problema de saúde pública que afeta a pecuária nacional

A maioria das verminoses são transmitidas de maneira semelhante. Para os bovinos, a contaminação acontece principalmente pela ingestão de alimentos ou água contaminados, e, para humanos, através do consumo de carnes cruas ou mal cozidas, sem inspeção, mãos sujas e objetos contaminados. Portanto, um maior cuidado básico de higiene pode evitar a disseminação dessas parasitoses.

A teníase e a cisticercose são verminoses transmitidas pela Tênia. O complexo teníase/cisticercose é causado pela mesma espécie de cestódio, em fases diferentes do seu ciclo de vida.

A cisticercose é uma entidade clínica provocada pela presença da forma larvária nos tecidos de bovinos. Em humanos, a teníase, que também é conhecida como solitária, é provocada pela presença da forma adulta da Taenia saginata, que se localiza no seu intestino delgado.

A Taenia saginata pertence à classe Cestoidea, ordem Cyclophillidea, família Taenidae e gênero Taenia. Na forma larvária (Cysticercus bovis da Taenia saginata) causa a teníase. Na forma de ovo a Taenia saginata desenvolve a cisticercose no bovino.

Ciclo de vida da T. saginata

O bovino é o hospedeiro intermediário da T. saginata (bovino), infectando-se quando ingere ovos ou proglotes presentes no ambiente e/ou alimentos.

O homem é o hospedeiro definitivo, passando a integrar o ciclo biológico desses parasitas, quando ingere a carne crua ou malpassada, vegetais ou frutas contaminadas por cisticercos.

O bovino adquire esses ovos através de alimentos ou água contaminados com fezes humanas. Depois de ingeridos, os ovos se transformam em estruturas denominadas oncosferas, que seguem através do sangue para a musculatura estriada e desenvolve-se a forma larval, o cisticerco (Cysticercus bovis).

Os ovos de tênia são ingeridos pelos hospedeiros intermediários (homem), os embriões (oncosferas) se libertam do ovo no intestino delgado pela ação dos sucos digestivos e bile. As oncosferas penetram na parede intestinal e, entre 24 e 72 horas, difundem-se no organismo através da circulação sanguínea. Ocorre então, a formação de cisticercos nos músculos esqueléticos e cardíaco.

Quando o homem ingere cisticercos viáveis ele sofre a ação do suco gástrico, evagina-se e fixa-se, por meio do escólex, na mucosa do intestino delgado, dando origem a tênia adulta.

O homem (hospedeiro definitivo) se infecta ao ingerir carne bovina, não inspecionada, mal cozida ou mal assada contendo os cisticercos vivos. Após três meses da ingestão do cisto, o homem começa a eliminar proglotes grávidas pelas fezes e reinicia-se o ciclo.

Um homem infectado pode eliminar milhares de ovos ao dia, livres, nas fezes, ou com segmentos intactos, cada um contendo grande quantidade de ovos, que podem sobreviver no ambiente durante vários meses. Esses ovos, depositados no solo, contaminam as pastagens e a água.

Patogenia e sintomatologia clínica da teníase

A teníase é uma infecção menos grave e tem como sintomatologia mais frequente dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarreia frequente e constipação em adultos.

O prognóstico é, excepcionalmente, causa de complicações cirúrgicas, resultado do tamanho do parasita ou de sua penetração em estruturas do aparelho digestivo, tais como: apêndice, colédoco e ducto pancreático.

Na maior parte dos casos, o indivíduo somente toma ciência da infecção quando observa a liberação das proglotes, fato este que só é notado muito tempo após a infecção. Consequentemente, o doente pode disseminar a doença por período bastante longo antes da suspeita de sua contaminação.

Epidemiologia da T. saginata

A T. saginata é um parasita de ampla distribuição, encontradas principalmente em regiões onde existe o hábito de ingerir carne de gado sem inspeção, crua ou malcozida e vegetais contaminados com as fezes desses animais ou humanos. Estima-se que mais de 70 milhões de pessoas estejam infectadas por T. saginata.

No Brasil, a cisticercose bovina está presente em todos os estados. A condenação pelo serviço de inspeção resulta em perdas entre 10 e 100% do valor das carcaças. No estado do Mato Grosso do Sul, por exemplo, estima-se que as perdas causadas pelo diagnóstico post mortem da cisticercose bovina no período de 2010 a 2012, em média, foi de a USD 9.000.000.

A incidência do complexo teníase-cisticercose permanece com elevados índices no Brasil, principalmente no que se refere à etiologia pela T. saginata/Cysticercus bovis. A maior parte dos relatos no território brasileiro é proveniente de matadouros e frigoríficos. A infecção tem sido relatada nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rondônia.

Diagnóstico de doenças do complexo teníase-cisticercose

O diagnóstico da cisticercose bovina é realizado na inspeção post mortem, que ocorre durante o abate nos matadouros, e consiste basicamente na avaliação visual macroscópica de cisticercos nos tecidos e órgãos da carcaça.

A inspeção das carcaças é feita mediante incisões praticadas em áreas consideradas de predileção para o cisticerco, como coração, músculos da mastigação, língua, diafragma e seus pilares e massas musculares da carcaça. A inspeção consegue detectar todos os cisticercos presentes na carcaça, uma vez que são retalhados todos os órgãos, vísceras e músculos das carcaças quando se detecta infecção intensa.

Legislação recente

Legislação recente, Instrução Normativa de 26 de fevereiro de 2021, estabelece prazo para aplicação do disposto no § 2º do art. 185 do decreto 9.013, de 29 de março de 2017, alterado pelo decreto nº 10.468, de 18 de agosto de 2020, em alinhamento com o prazo estabelecido para a adequação dos estabelecimentos de abate em realizar cadastro de produtores e programas de melhoria da qualidade da matéria-prima e de educação continuada dos produtores.

Atenção ao Art. 2º:

Durante o período estabelecido no art. 1º desta Instrução Normativa, o julgamento para infeções leves ou moderadas por Cysticercus bovis (cisticercose bovina) deve ser:

I – Quando for encontrado um cisto viável, considerando a pesquisa em todos os locais de eleição, examinados na linha de inspeção e na carcaça correspondente, esta deve ser destinada ao tratamento condicional pelo frio ou pela salga, após a remoção e a condenação da área atingida.

II – Quando for encontrado um único cisto já calcificado, considerando todos os locais de eleição, examinados rotineiramente na linha de inspeção e na carcaça correspondente – esta pode ser destinada ao consumo humano direto sem restrições, após a remoção e a condenação da área atingida.

Parágrafo único. Quando forem encontrados mais de um cisto, viável ou calcificado, e menos do que o fixado para infecção intensa, considerando a pesquisa em todos os locais de eleição, examinados na linha de inspeção e na carcaça correspondente – esta deve ser destinada ao aproveitamento condicional pelo uso do calor, após remoção e condenação das áreas atingidas.

Formas de controle do complexo teníase-cisticercose

O controle dessas doenças tem como estratégia fundamental a interrupção do ciclo de vida do parasito, evitando a infecção de animais e seres humanos através de controle higiênicos-sanitário, como a construção de sistemas de esgoto, conscientização da população quanto a práticas de higiene como o não consumo de carnes cruas e higienização adequada das verduras a serem ingeridas cruas.

São algumas medidas de controle dessa parasitose: O melhoramento das condições de criação de animais, evitando acesso de animais a fezes humanas. Promover uma rígida inspeção em relação a produtos cárneos, evitando abate e comércio de produtos clandestinos. Promoção de conscientização da população quanto aos riscos desta infecção.

A profilaxia do complexo teníase-cisticercose depende de inúmeros fatores combinados, como: a educação sanitária do homem; a detecção e tratamento do indivíduo parasitado, pois ele é o disseminador da cisticercose; o uso de instalações sanitárias com fossas sépticas ou redes de esgoto; ingestão de carnes ou produtos derivados bem cozidos ou assados.

Faz-se necessárias medidas epidemiológicas, tais como:

  • Esclarecer a população sobre os riscos e combater a prática do abate clandestino dos bovinos;
  • Garantir a esterilização parasitária das águas residuais na saída dos efluentes das áreas urbanas e o uso de fossas sépticas nas áreas rurais;
  • Rastrear os animais abatidos e positivos para cisticercose bovina, com posterior tratamento verticalizado, por parte das autoridades sanitárias.

A inspeção veterinária de carnes, executada pelos Serviços de Inspeção Municipal, Estadual e Federal, é a principal medida na prevenção da teníase, pois, apesar de suas limitações, a inspeção identifica as carcaças com infecções intensas e leves, desde que exista alguma alteração visível macroscopicamente, atuando também como crivo sanitário, impedindo a disseminação de agentes zoonóticos.

João Paulo M. Lollato – Coord Serviços Técnicos Biogénesis Bagó

Reuel Luiz Gonaçalves – Ger. Serviços Técnicos Biogénesis Bagó

Adaptado de TOLEDO, RCC et al Complexo Teníase/Cisticercose: uma revisão. Higiene Alimentar – Vol.32 – nº 282/283 – julho/agosto de 2018.