Durante o inverno, no Brasil Central e Centro-Sul do país, temos características climáticas bem definidas, tais como temperaturas mais amenas e baixos volumes de chuvas.
Nessa época, conhecida como estacionalidade de produção, a produção do capim diminui, levando o produtor a adotar estratégias nutricionais de suplementação no período seco do ano, muitas vezes recorrendo à criatividade a fim de aproveitar estruturas e manejos já existentes na fazenda como a estrutura de confinamento.
Utilizado primariamente para a engorda de animais na fase de terminação, hoje, o uso dessa estrutura vem sendo otimizado, aproveitado também para intensificar a recria e, consequentemente, a produção de animais precoces.
Intensificação da recria de machos para abate
A recria de machos em confinamento visa adaptar os animais à dieta de terminação, aproveitar o melhor período de crescimento muscular e diminuir a idade ao abate quando há incentivos para abate de animais mais jovens.
Oliveira, Bassan e Henkes (2021) confinaram bezerros desmamados da raça Braford e compararam resultados entre animais castrados e inteiros.
Os bezerros, de nove meses de idade, permaneceram no confinamento por 133 dias, recebendo uma dieta com 18% de Proteína Bruta (PB), composta de silagem de milho, farelo de soja, milho moído e sal mineral.
Os bezerros inteiros e castrados entraram no confinamento com peso médio de 238,7kg. Na saída, os inteiros pesavam 411,5kg e os castrados, 400,8kg em média.
O Ganho Médio Diário (GMD) dos animais inteiros foi de 1,3kg, enquanto os castrados ganharam diariamente 1,2kg.
Esse estudo mostra a efetividade em confinar animais jovens, provando que é possível obter desempenhos tão bons quanto confinamentos de terminação.
Vieira et al. (2005) classificou bezerros logo após término da desmama em três classes de acordo com o peso: inferior, intermediária e superior. Após a seca e um de águas, eles foram agrupados e classificados novamente.
O resultado obtido mostra que a classificação realizada após a desmama tende a seguir a estabilidade após a recria.
A classe inferior, intermediária e superior eram compostas por 7, 77 e 19 animais, respectivamente. Ao término do período eram 6, 81 e 16, na mesma ordem.
A sugestão dos autores é classificar os bovinos para direcionar o período de recria. Por exemplo, recriar animais classificados como superiores em confinamento, pois seu desempenho será melhor quando comparado aos animais inferiores e intermediários.
Recria intensificada de fêmeas para cria precoce (precocinhas)
A recria de fêmeas pode ser abordada de duas perspectivas: a primeira para engorda e abate, seguindo os mesmos princípios dos machos, e a segunda para reposição de fêmeas reprodutoras do plantel.
As fêmeas recriadas em confinamento são chamadas de “precocinhas”.
São novilhas cuja maturidade sexual é atingida mais cedo com a ciclagem regular antes do período de estação de monta, o que possibilita a cobertura com 12 a 14 meses de vida.
A idade média ao primeiro parto, no Brasil, é de 40 meses (Pereira, 2000), sinalizando a oportunidade para a recria de fêmeas em confinamento com a finalidade de reduzir esse período.
Os objetivos da recria de novilhas, em geral são:
- a diminuição da idade ao primeiro parto;
- redução de custos na cria;
- maior número de bezerros desmamados ao longo da vida produtiva da fêmea;
- aumento no número de bezerro do cedo produzidos na fazenda.
Alguns cuidados são necessários, principalmente os nutricionais.
No pré-parto, a fim de atingir o peso ideal para entrar no protocolo reprodutivo, e pós-parto, para não prejudicar a estação de parição seguinte.
Ferraz Júnior (2016) comparou o desempenho reprodutivo de 58 novilhas Nelore com recria em confinamento. Foram 4 grupos experimentais com a interação de 2 características de interesse: genética (DEP positiva e negativa para idade ao primeiro parto) e nutrição (GMD de 300g e 700g).
Como resultado desse manejo, as novilhas desempenharam da seguinte forma:
- O grupo de maior ganho de peso e genética precoce (DEP positiva), as novilhas emprenharam até o fim da estação de monta, com até 18 meses de idade.
- No grupo com menor ganho de peso as novilhas emprenharam com até 29 meses. As novilhas tardias com maior e menor ganho de peso emprenharam com até 24 e 35 meses, nessa ordem.
Assim como o comprometimento do crescimento das novilhas submetidas ao tratamento de menor ganho de peso, o desenvolvimento reprodutivo também foi retardado.
O fator genético foi determinante para o resultado obtido, mas a nutrição afeta o resultado com papel de destaque.
Como a nutrição afeta o desempenho das fêmeas na recria?
A nutrição é um fator limitante para o aparecimento da puberdade, e, para obter melhores resultados, o uso de seleção genética na raça Nelore para precocidade sexual é essencial (Ferraz Júnior, 2016).
Para fins de comparação, Vieira et al. (2006) realizaram um experimento com bezerras Nelore recriadas em pasto, apenas com suplementação mineral, a fim de determinar a eficiência reprodutiva das fêmeas nessas condições.
As novilhas tinham 25 meses quando iniciaram na estação de monta e 309kg em média, com Idade ao Primeiro Parto (IPP) de 36 meses.
O valor de IPP obtido por Vieira et al. está abaixo da média brasileira, mas acima do encontrado por Ferraz Júnior (2016), mostrando a eficiência reprodutiva de fêmeas em confinamento.
Conclusão
Falhas no manejo e planejamento da alimentação do rebanho durante o período seco resultam, principalmente em:
- aumento da idade ao primeiro parto;
- baixas taxas de prenhez;
- aumento da idade de abate;
- perdas de peso nos animais sem suplementação.
Todos esses fatores levam a perdas econômicas, indesejadas no processo produtivo. Através de conhecimento técnico e uso de tecnologias é possível mitigá-los e tornar a fazenda cada vez mais eficiente e lucrativa.