A engorda de bovinos de corte em confinamento vem crescendo no Brasil, em função da necessidade de intensificação da produtividade, além de ser uma ferramenta estratégica para o período seco do ano.
Porém, esse sistema pode acarretar grandes desafios sanitários, com relação ao contágio e disseminação de doenças infecciosas no rebanho.
As doenças respiratórias se destacam nesse cenário, já que quando os animais entram em sistemas intensivos, são expostos a situações de estresse, como mudanças abruptas de ambiente, alterações climáticas e de transporte.
No caso do confinamento, no período seco a quantidade de poeira em suspensão se torna mais um desafio para a defesa do trato respiratório.
Assim, o sistema imune pode ser deprimido, favorecendo a proliferação de agentes patogênicos e o estabelecimento das doenças respiratórias.
Estudos indicam que são encontradas lesões pulmonares no momento do abate em animais que não foram identificados como doentes no período do confinamento, indicando que os sintomas nem sempre são visíveis e algumas doenças podem agir de forma silenciosa, portanto, cuidados na prevenção e combate dessas doenças são necessários.
Complexo das doenças respiratórias bovinas (DRB)
Também conhecido como Febre dos Transportes (FT), DRB é o nome dado a um conjunto de doenças respiratórias infecciosas com causas multifatoriais: estresse, deficiência nutricional ou mudanças na dieta, exposição a agentes infecciosos, agrupamento de animais de diferentes origens e o transporte.
As condições ambientais desfavoráveis (calor, frio, poeira e lama) e o estresse estão entre os principais riscos sanitários paras essas infecções. Entre abril e setembro, meses de seca na maior parte do país, o frio e a poeira podem ser os fatores mais agravantes.
Nas DRBs, inicialmente, ocorre instalação de um agente viral, causando uma bronquite e afetando posteriormente o sistema imunológico, criando condições propícias para colonização do trato respiratório por bactérias (agentes secundários).
Os principais patógenos associados às DRBs são os vírus, como o vírus sincicial respiratório bovino (BRSV), considerado o agente mais importante, seguido do vírus da parainfluenza bovina tipo 3 (PIV-3); do hespervírus bovino tipo 1 (BoHV-1), causador da rinotraqueíte bovina infecciosa (IBR), e do vírus da diarreia viral bovina (BVDV), assim como o adenovírus, coronavírus, rinovírus, reovírus, enterovírus e calicivírus.
As bactérias mais comumente relacionadas são a Mannheimia haemolytica, Pasteurella multocida, Histophilus somni e Mycoplasma bovis.
Os prejuízos financeiros causados pelas doenças respiratórias advêm da redução de eficiência alimentar dos animais, menor ganho de peso e aumento de dias em confinamento, como também da mortalidade, principalmente de animais recentemente confinados, dos custos com tratamentos e profilaxia.
Pesquisas norte-americanas relatam de 50 a 70% de mortalidade e no Brasil, apesar de poucos estudos acerca sobre a mortalidade, as DRBs são indicadas como o principal desafio relacionado à saúde nos confinamentos.
Como identificar os sintomas das DRBs
Os sinais clínicos são variáveis, indo de quase imperceptíveis e brandos até casos graves, na doença clínica superaguda, que pode levar a morte quando há pneumonia bacteriana secundária.
Os sinais podem incluir:
- depressão;
- perda de apetite;
- queda na produção;
- secreção nasal e ocular;
- salivação intensa;
- febre (acima de 40ºC);
- aumento da frequência respiratória e tosse;
A avaliação visual de sinais de depressão, perda de apetite, tosse e descarga nasal tem baixa sensibilidade e especificidade, gerando diagnósticos errôneos por não identificar e não tratar animais realmente doentes ou por tratar animais não doentes.
Por isso é necessário o diagnóstico correto. Para o diagnóstico laboratorial, amostras dos animais doentes podem ser enviadas, como amostras pulmonares, bronquioalveolares ou lavados traqueais. A necropsia, junto aos testes diagnósticos dos patógenos, são o teste padrão ouro para a confirmação.
Os exames clínicos e complementares nos animais, as necrópsias, principalmente, e o acompanhamento de abates no frigorífico são ferramentas importantes para monitoramento da saúde do rebanho, já que as informações obtidas a partir dessas avaliações serão o fio condutor para tomada de decisões e recomendações futuras no confinamento.
O tratamento das DRBs é muitas vezes sintomático e os antibióticos entram como parte do protocolo de tratamento e controle, além dos anti-inflamatórios não esteroidais, que reduzem a severidade dos sintomas e diminuem as lesões pulmonares.
Com evitar o aparecimento de surtos de DRBs em confinamento?
A prevenção é a melhor estratégia de controle. Baseia-se nos programas de vacinação e nas práticas de manejo, como avaliação dos animais (sinais clínicos) e uso de antimicrobianos como manejo inicial na chegada dos animais ao confinamento.
O tratamento metafilático, definido como tratamento antimicrobiano de todo o grupo, pode ser implantado quando os animais recém-chegados são identificados como de alto risco de desenvolverem as DRBs. Esse tratamento pode aumentar o ganho de peso médio diário dos animais e diminuir a morbidade e mortalidade da doença.
Além de reforço das vacinas, o uso de anti-helmínticos e vacinas contra clostridioses, também são recomendados cerca de 45 dias antes da entrada no confinamento, complementando o conjunto de práticas que auxiliam no controle e prevenção das DRBs.