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Rentável e sustentável: orientações para manejo de dejetos no confinamento

Rentável e sustentável: orientações para manejo de dejetos no confinamento

28/08/2023

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Rentável e sustentável: orientações para manejo de dejetos no confinamento

O modelo econômico atual é baseado em um fluxo contínuo de extração, produção, consumo e descarte de materiais que, muitas vezes, é realizado de forma inapropriada.

A aplicação da economia circular consiste na recuperação, reprocessamento e reutilização de um produto ou serviço. Esse sistema é a base do gerenciamento de dejetos que, basicamente, compreende as seguintes etapas: coleta, armazenamento, tratamento e utilização.

Considerando a escassez global de recursos naturais, além de questões políticas, econômicas e ambientais, visto que consumidores estão cada vez mais exigentes quanto aos aspectos de produção das mercadorias, o que tem impulsionado a busca por alternativas mais sustentáveis.

Dentro da atividade pecuária, principalmente em sistemas intensivos de produção – confinamento e semiconfinamento – responsáveis por um maior acúmulo de resíduos (urina, fezes, restos de alimentos), é essencial planejar o destino desses dejetos, uma vez que o manejo adequado não só contribui com o meio ambiente, como também representa uma oportunidade de aumentar a eficiência e rentabilidade do sistema produtivo.

Como gerenciar os dejetos?

Para aproveitar os dejetos corretamente, é necessário escolher o tipo de tratamento mais adequado.

As características de manuseio variam conforme a consistência do dejeto (umidade), que pode ser classificada em: sólido (16% ou mais de sólidos), semissólido (12 a 16% de sólidos) e líquido (12% ou menos de sólidos) (Embrapa).

  1. Líquido

Realiza-se a coleta, tratamento e homogeneização do esterco diluído em água (1:1), normalmente proveniente da limpeza das instalações. A solução depositada nos tanques pode ser utilizada posteriormente para a atividade de fertirrigação, através de equipamentos específicos.

Um dos sistemas de manejo líquido mais adotados é a lagoa de estabilização. Nesse sistema, o esterco é conduzido até uma lagoa anaeróbia que, após saturada, deixa transbordar a porção líquida até uma segunda lagoa (lagoa de armazenagem). Da lagoa armazenadora, o esterco líquido pode ser destinado a sistemas de irrigação (pivôs, por exemplo). Os resíduos sólidos da lagoa anaeróbia são ricos em fósforo e nitrogênio e podem ser aproveitados como adubo orgânico.

  • Convencional (forma sólida)

A raspagem é feita manual ou mecanicamente e os dejetos são armazenados em uma esterqueira, onde o esterco passará por um processo de fermentação, ou em uma composteira, onde o volume sólido passará por uma digestão aeróbica, para, em seguida, ser distribuído nas áreas de cultura. O chorume (porção líquida) pode ser destinado para uma fossa (chorumeira) e utilizado posteriormente para fertirrigação.

  • Semissólido (misto)

Neste tipo de material, a mistura dos dejetos e água é mínima, apenas o necessário para facilitar a raspagem do esterco do curral. Essa massa é considerada muito úmida para o sistema convencional e pouco diluída para sistemas líquidos. Seu armazenamento é realizado, normalmente, em fossas e sua distribuição é feita com equipamento específico, tanques tracionados por tratores e bombas vácuo-compressoras, se tornando um sistema que demanda maior mão-de-obra e equipamentos.

Aplicando na prática: biodigestores

A sustentabilidade está se tornando, gradualmente, um ponto de atenção entre agricultores e pecuaristas do Brasil. É interessante relatar que, durante as visitas do Confina Brasil, pesquisa-expedicionária da Scot Consultoria, o aproveitamento de dejetos foi uma característica comum a quase todos os confinamentos visitados.

O uso de biodigestores tem se popularizado por ser uma tecnologia de construção simples e com baixo custo de operação, que permite agregar valor através da transformação dos resíduos em biofertilizante e biogás.

Trata-se de uma câmara fermentadora anaeróbia, que reduz a matéria orgânica através da conversão do carbono em CH4 (metano), minimizando sólidos e patógenos.

O biogás é constituído, principalmente, por metano e gás carbônico e seu uso na produção de energia da propriedade, possibilita retornos econômicos e impede que tais gases poluentes sejam liberados na atmosfera. Paralelamente, a porção sólida pode ser usada como adubo orgânico e biofertilizante. Os dejetos, quando usados como fertilizantes, são fontes de macro e micronutrientes e trazem diversos benefícios ao solo, como: melhora da estrutura, diminuição da compactação, maior aeração e drenagem, aumento da capacidade armazenagem de água, aumento de pH em solos ácidos, evita perda de minerais por lixiviação, aumenta o número de microrganismos úteis e prolonga o efeito da adubação.

Considerações finais

A adoção de práticas para tratamento dos dejetos contribui ambientalmente reduzindo poluentes e oferece oportunidades de retorno econômico, uma vez que, os nutrientes absorvidos através da alimentação e liberados através de dejetos, serão reciclados e reaproveitados dentro da propriedade, proporcionando melhorias nas propriedades do solo, produção de energia renovável (biogás) e matéria orgânica (biofertilizantes), alternativa aos insumos derivados do petróleo, que são altamente energéticos, mais onerosos, não-renováveis e potencialmente poluidores, se mal utilizados.

Todos os sistemas de tratamento apresentam vantagens e desvantagens. A adoção do sistema mais adequado dependerá do objetivo e dos recursos do produtor, como tamanho da propriedade e mão-de-obra disponível.

Apesar dos desafios, estamos caminhando rumo a uma atividade cada vez mais sustentável e é através do compartilhamento de conhecimentos e disseminação de tecnologias que atingiremos esse objetivo, fazendo a cada dia uma pecuária mais rentável e sustentável.