Superando o público de 2017, edição deu o norte das tendências para 2018
Natália Ponse, de Ribeirão Preto (SP)
natalia@ciasullieditores.com.br
Completando sua 13ª edição entre 14 e 16 de março de 2018, o Encontro de Confinamento e Gestão Técnica e Econômica mais uma vez atuou como um líder do caminho a ser seguido nesta nova etapa da pecuária brasileira. Foram quatro blocos: Economia e Mercado, Gestão e Manejo, Inovações Tecnológicas e também Sistemas Integrados. Nomes de peso do setor dividiram conhecimento e técnicas essenciais para transformar o negócio em lucro – a verdadeira alquimia do confinamento.
De acordo com o organizador do evento e diretor Técnico da Coan Consultoria (Piracicaba/SP), Rogério Marchiori Coan, a expectativa de público no Centro de Convenções de Ribeirão Preto (SP) foi superada mesmo com o início de ano atribulado: “A expectativa ficava em torno de 500 participantes, justamente pelas notícias recentes, cenário do milho, remuneração da arroba, além dos acontecimentos na nossa política. Operações da Polícia Federal também trazem sempre um pouco de instabilidade para os participantes, que se questionam se valeria a pena investir em tecnologia”.
Ao contrário da edição anterior, que reuniu 524 participantes, a contagem deste ano computou 546 confinadores, técnicos e demais envolvidos na produção de carne brasileira. A casa cheia superou não só a expectativa de público, mas, também, na qualidade das discussões. Nomes de peso fomentaram debates sobre temas que se complementaram nos quatro painéis. “Esperamos que todos os participantes saiam daqui com as ferramentas para tomar decisões mais assertivas e rápidas, visando planejar a atividade de 2018”, conclui Coan.
O diretor Técnico da Coan Consultoria também palestrou durante o encontro. No segundo dia, fazendo parte do painel Inovações Tecnológicas, o especialista ministrou o conteúdo “Rotinas operacionais no confinamento: o que realmente faz a diferença?”, durante o qual apresentou um case de sucesso que exemplifica a importância do planejamento dentro da porteira.
Em sua fala, ele enfatiza que a gestão é um processo cíclico e não vai parar de melhorar nunca. “Planejamento faz a diferença no agronegócio. Se eu tenho metas, vou correr atrás das minhas rotinas para fazer elas acontecerem. Se eu não tenho, posso percorrer um caminho muito longo e tortuoso até chegar onde eu quero”, afirma.
Mas, só isso não basta. O trabalho no campo deve ir além do planejamento e, também, “fazer bem feito, checar bem a operação, e aplicar uma ação corretiva rápida”. Para isso, Rogério Coan indica o uso de métricas e indicadores para melhorar os resultados técnicos e econômicos de um ano para outro.
Potencial brasileiro, reação às acusações e orientações para mais lucros. Temas de profunda relevância para a pecuária e, mais ainda, em constante debate na mídia e rodas de conversa do setor, foram esclarecidos e repercutidos dentro da plenária. Citando as perdas potenciais teóricas que poderiam impactar a cadeia produtiva de acordo com cada uma das investidas dos últimos três meses, o engenheiro agrônomo, sócio e diretor da Divisão de Pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, analisou a o projeto Segunda Feira Sem Carne, Funrural e a proibição das exportações de gado em pé.
Aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo no final de dezembro de 2017, o projeto de lei que estabelece a “Segunda Sem Carne” em todo o Estado paulista foi vetado quando chegou às mãos do governador Geraldo Alckmin. O texto proibia “o fornecimento de carnes e seus derivados às segundas-feiras, ainda que gratuitamente, nas escolas da rede pública de ensino e nos estabelecimentos que ofereçam refeição no âmbito dos órgãos públicos”.
“Se a pessoa vai no restaurante público e não tem carne, ela vai sair dali e comer em outro lugar. Ou seja, o proprietário desse estabelecimento vai ser prejudicado. Se isso ocorresse em todo o Estado, haveria um prejuízo estimado em R$ 29 bilhões, além da queda de 250 mil empregos”, explica o especialista.
Sobre o Funrural, que teve o prazo de adesão ampliado para 30 de abril, Nogueira é claro quando diz que, se o passivo tiver que ser pago do jeito que está atualmente contido na lei, haverá uma pressão muito grande na cadeia. “Quando dizem que ‘essa conta é do frigorífico’, de onde acham que vai sair esse valor, senão da compra do boi? Temos que mudar os critérios, é uma questão de interesse de todos”, declara, salientando que o prejuízo será em torno de R$ 71 bilhões e 610 mil empregos caso a proposta siga adiante.
Uma polêmica que ultrapassou a mídia do setor e chegou até veículos de grande circulação foi a exportação de gado em pé pelo Porto de Santos, entre o final de janeiro e início de fevereiro. O engenheiro agrônomo acredita que há grandes chances de a proibição se tornar realidade em um futuro próximo.
“A falta de comunicação gera risco para o setor, porque existem pessoas dentro do congresso querendo proibir coisas que fazemos na pecuária; dentro do poder judiciário tem juízes que tomam decisões arbitrárias e absurdas”, critica o consultor. Citando ainda as questões trabalhistas e indígenas, ele declara que superar as adversidades envolve o poder de comunicar o que está sendo feito de bom na pecuária, para justamente mudar a forma como ela é tratada. “Reclamaram do cheiro de fezes no Porto de Santos, mas se você deixa um navio com 27 mil bois parado por dez dias, é óbvio que vai dar cheiro. Tinha que ter sido embarcado, tem todo um protocolo a ser seguido”, finaliza, citando o futuro prejuízo de R$ 24 bilhões e 110 mil empregos caso a proibição seja efetiva.
O zootecnista e gerente Executivo de Compra de Gado da Minerva Foods (Barretos/SP), Fabiano Tito Rosa, falou que a indústria frigorífica no Brasil está “estrangulada”. Ele é enfático: para melhorar, a demanda precisa aquecer, o mercado interno e as exportações têm de reagir, e/ou o frigorífico vai precisar ajustar a produção para segurar o custo da matéria prima.
De acordo com ele, é preciso olhar para o mercado externo e abrir novos mercados. “O Brasil fez um bom trabalho nos últimos anos, mas nossa produção está crescendo e ainda que o mercado interno se recupere, ele tem um limite. O consumo de carne por parte do brasileiro já é alto, então não deve avançar tão mais. É preciso exportar mais, conservar os países que já importam e abrir novas oportunidades”, complementa.
Também falando de mercado, o analista Sênior do Rabobank (São Paulo/SP), Adolfo Fontes, apresentou análise dizendo que o Brasil vai crescer sua produção em pelo menos um milhão de toneladas nos próximos dez anos, tornando-se o principal exportador mundial bem à frente da Índia, que será o segundo colocado.
Fontes destaca a China como o grande responsável pela compra de boa parte das 9,4 milhões toneladas de carne no mercado internacional, com dois milhões – norte da África e o Oriente Médio também serão de grande relevância neste sentido.
“O Brasil ainda não ocupa todos os espaços que poderíamos ocupar. Nós já somos líderes de exportação sem atingir grandes importadores como Japão, Coreia do Sul, Canadá e México, que juntos representam 40% do mercado total”, analisa o especialista do Rabobank. Ele ainda cita a importância da resolução da questão vacinal da febre aftosa, que pode nos levar a conquistar e reconquistar mais mercados mundo afora, países que exigem carne sem a imunização.
Mas, de nada adianta olhar para fora sem antes arrumar nossa casa, não é mesmo? Por isso, orientações sobre ações efetivas dentro da porteira também foram tema das palestras. A médica-veterinária, pecuarista e consultora da Agrifatto, Lygia Pimentel, levou suas “dicas de ouro” para os confinadores que desejam uma maior lucratividade nas suas produções.
A primeira orientação da especialista é com relação às operações de hedge, realizadas por empresas e investidores que desejam se proteger dos riscos das oscilações de preços – essencial para pecuaristas. “Não se trata de pegar o melhor negócio do ano, se for assim, irei errar na maioria das vezes. Trabalhamos com uma média pro maior acerto para poder concluir bons negócios na maioria das vezes, então não erramos e nem acertamos todas”, afirma Pimentel.
Ter em mãos o custo total por arroba produzida facilita a programação de venda antecipada por meio de ferramentas de comercialização. Ela explica que essa atitude embasa a tomada de decisão, já que é muito mais certeira a decisão de venda baseada no mercado futuro quando se conhece esse número dentro da propriedade. Outra dica da consultora é: “Implantar um sistema eficiente de gestão é estratégia de longo-prazo”. Conforme explicou no primeiro dia de palestras, é preciso ter em mente que os melhores resultados não chegam nos primeiros meses e, por vezes, nem no primeiro ano. De qualquer forma, as estratégias são essenciais para se proteger das flutuações do mercado.
Falando sobre liderança e desempenho de equipe, o coordenador do Instituto Inttegra, Antonio Chake El-Memari Neto, abriu os trabalhos do segundo dia de evento sendo direto: não existe caminho curto, rápido ou fácil. “Mas há um método, se pensarmos nele com foco a evolução vem”, diz. Para ele, é necessária uma cultura de “gente que faz”, que se interessa e toma a responsabilidade das atividades diárias do confinamento para si. “Não somos mais um profissional ou um agente de transformação, precisamos ser um ‘sucessador’, ir atrás do sucesso em todas as etapas”, finaliza.
Próximo encontro. Com a missão cumprida da 13ª edição do Encontro de Confinamento e Gestão Técnica e Econômica, Rogério Coan convida a todos para a próxima empreitada da consultoria, em parceria com o Instituto Rehagro. “Na primeira semana de agosto vamos realizar mais uma edição do Fórum da Pecuária Lucrativa para discutir a cria, regria e engorda em regime de pastagem. Esperamos um público superior a mil pessoas aqui no Centro de Convenções de Ribeirão Preto”, convida o consultor. Entre os temas a serem debatidos, ele adianta “economia e mercado”, “aplicação de tecnologia” e “gestão”.