Maior exportadora de carne bovina da América do Sul desde que comprou as operações da JBS na Argentina, Uruguai e Paraguai, em 2017, a brasileira Minerva Foods anunciou adesão ao movimento Mesa Global de Carne Sustentável (GRSB). A iniciativa reúne grandes marcas internacionais envolvidas na produção de alimentos – como Cargill, Corteva, JBS e Bayer – e associações de produtores, entidades civis e ONGs ambientalistas, como a WWF e a Rain Forest Alliance.
A decisão de aderir à Mesa Global fortalece a meta da carne bovina brasileira de se apresentar como a mais sustentável do mundo. “A matéria-prima passa por um crivo de verificação que elimina riscos, por exemplo, de estar associada ao desmatamento ilegal no bioma Amazônia, à sobreposição com terras indígenas ou unidades de conservação, além de excluir produtores que estão em listas de áreas embargadas do Ibama ou de trabalho escravo do Ministério do Trabalho”, salienta Taciano Custódio, gerente de Sustentabilidade da Minerva Foods.
Em relação ao Cerrado, a visão de sustentabilidade da Minerva, no entanto, é diferente do posicionamento de outros parceiros na iniciativa, como a Cargill, signatária do Fórum de Commodities (SCF), que busca ativamente identificar intervenções necessárias para conter o avanço da agropecuária sobre a vegetação nativa. Após ser duramente criticada por agricultores brasileiros, a Cargill publicou há dez dias uma carta aberta negando ser favorável à chamada “Moratória do Cerrado”, uma proposta de entidades ambientais para que as tradings deixem de comprar soja proveniente de zonas desmatadas daquele bioma, a exemplo do que já ocorre em relação à Amazônia. A empresa norte-americana insistiu, no entanto, no fundo de US$ 30 milhões “para ajudar a encontrar uma alternativa inovadora e economicamente viável para o crescimento dos produtores, que não seja a conversão da vegetação nativa do Cerrado”.
Atributo ambiental único
Para o Cerrado, de onde vem 40% da carne brasileira, Custódio diz que a Minerva Foods defende a aplicação do Código Florestal brasileiro, “uma das legislações mais modernas e protecionistas que existem hoje no mundo”. “Estamos muito bem amparados pela legislação brasileira em relação à proteção do Cerrado. Existe um atributo ambiental único da carne produzida no Brasil, que é esse percentual de vegetação nativa protegido e mantido financeiramente pelo produtor (de 20% a 35% no Cerrado), e isso não ocorre em lugar nenhum do mundo”, assegura Custódio.
Para o executivo, o diferencial conservacionista da produção brasileira precisa de mais visibilidade. “Ter um país com mais de 60% do território com vegetação nativa é para muito poucos. Quanto mais propagarmos este atributo de proteção ambiental, mais reconhecidos e monetizados nossos produtos podem se tornar”, assinala. A troca de experiências no fórum internacional deve ampliar as ações de bem-estar animal e manejo e a incorporação de altas tecnologias. “Acho que o grande espaço para avançar, em relação ao bem-estar animal, está no manejo no campo e no transporte. Queremos demonstrar quanto se pode ganhar com um manejo melhor. Tendo um animal com menor nível de estresse, a qualidade da carne sem dúvida é melhor, na coloração e no PH mais baixo, e um tempo de vida na prateleira mais estendido.
Exportando mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina por ano da América do Sul, o que representa 21% de participação nos embarques do continente, a Minerva Foods teve em 2018 receita bruta de R$ 17,2 bilhões, 33% acima do desempenho de 2017 – quando ainda não havia comprado 9 frigoríficos da JBS nos países vizinhos.
Fonte: Gazeta do Povo