Frigorífico Minerva reabre a temporada de captação de recursos no exterior, mostrando o apetite dos investidores internacionais pelos papéis brasileiros
Em meados de julho, Edison Ticle, diretor financeiro do frigorífico Minerva Foods, estava consolidando os números da companhia referentes ao segundo trimestre quando teve uma ideia: aproveitar a boa disposição dos profissionais de mercado no dia 6 de setembro, volta das férias de verão no Hemisfério Norte, para oferecer um papel da Minerva logo na abertura dos negócios. A intenção era captar dinheiro mais barato nos Estados Unidos e alongar o perfil de dívida da companhia. Para sondar o mercado, nos últimos dias de agosto, Ticle, acompanhado de Fernando Queiroz, presidente da Minerva, e outros cinco executivos, viajou para Cingapura e Hong Kong.
Na Ásia moram os endinheirados mais avessos ao risco do mundo, e eles dariam uma boa noção da demanda. Depois de 12 reuniões com 30 investidores, eles tiveram a certeza de que as longas horas passadas voando não haviam sido perdidas. “Vou resumir: o apetite era grande”, diz Ticle. Mas ele percebeu que o interesse ia além da Minerva. “Falávamos da empresa em 80% do tempo”, diz ele com exclusividade à DINHEIRO. “No restante da conversa, os investidores queriam saber sobre as perspectivas para a economia brasileira com a troca do governo.”
Da Ásia, a equipe do Minerva foi para Londres. O interesse dos investidores era ainda maior, e a animação de Ticle aumentou. De lá, o grupo atravessou o Atlântico em direção aos Estados Unidos. Inicialmente, eles planejavam pagar juros de 7%, mas, diante no interesse, na quinta-feira, dia 8 de setembro, bateram o martelo em uma taxa na emissão, o chamado cupom, de 6,5% ao ano. Ofereceram ao mercado US$ 1 bilhão em bônus com vencimento em 2026, e receberam encomendas de US$ 4 bilhões. Com isso, a taxa efetiva, ou yield, caiu ainda mais, para 6,25% ao ano.
Segundo Ticle, os recursos serão usados para recomprar títulos emitidos em 2013 e que vencem em 2023, e pagam juros de 7,75% ao ano. Toda essa trabalheira vale a pena: a companhia vai economizar US$ 5 milhões ao ano pelos próximos sete anos. O caso da Minerva não deverá ser o único. O ano de 2016 começou de maneira atípica, com investidores internacionais retraídos devido às incertezas da política e da economia. Porém, o fim das férias acima do Equador encontrou as empresas brasileiras muito ocupadas em seduzir investidores.
Duas empresas de logística, a JSL Logística e a companhia de gestão de frotas Ouro Verde, passaram a primeira quinzena do mês se reunindo com investidores em Nova York, deverão anunciar o resultado de suas emissões ainda antes do fim de setembro. Procuradas, as companhias não se manifestaram por estarem em período de silêncio. Para o economista Marcos Mollica, sócio gestor na Rosenberg Investimentos, com o encerramento do processo de impeachment e a redução de percepção de risco do País, os juros elevados do Brasil voltaram a atrair a atenção dos estrangeiros.
“Nas últimas nove semanas, os mercados emergentes receberam mais de US$ 22 bilhões, em parte porque o risco de crédito na América Latina caiu consideravelmente”, afirma Alexander Severino, diretor de mercado de capitais para renda fixa do BTG Pactual. Severino, que mora em Nova York, avalia que após permanecer fechado entre julho de 2015 e março deste ano, o mercado externo voltou a se abrir para as empresas brasileiras. Segundo ele, frigoríficos, produtoras de papel e celulose e exportadoras em geral têm uma janela de oportunidade de 18 meses para buscar dólares e euros.
O caminho está aberto até março de 2018, quando o início da disputa presidencial vai colocar o mercado de sobreaviso. Mollica avalia que as captações deste ano serão para pagar ou rolar dívidas. Para ele, as empresas devem esperar a economia voltar a crescer antes de captar dinheiro para investir. “O ajuste fiscal, se aprovado, será o primeiro passo da trajetória de crescimento e, na sequência o início de corte de juros do Banco Central. Não acredito em captações com a finalidade de aumento da capacidade produtiva antes do segundo semestre de 2017”, diz ele.
Fonte: Istoé Dinheiro