A China continua tirando o sono de pecuaristas e donos de frigoríficos no Brasil, mas não conseguiu impedir um trimestre recorde na Minerva Foods. A companhia dos Vilela de Queiroz contornou o embargo à carne brasileira, recompôs as margens e vai antecipar R$ 200 milhões em dividendos, o que trouxe o retorno ao acionista para 12% em 2021 (no primeiro semestre, mais de R$ 400 milhões em proventos já foram distribuídos).
A Minerva acaba de divulgar o balanço do terceiro trimestre, com uma receita líquida de R$ 7,3 bilhões — um salto anual de 43,4% puxado pela disparada dos preços da carne, sobretudo no mercado externo. O Ebitda aumentou 17%, alcançando R$ 648 milhões, um recorde. O lucro trimestral atingiu R$ 72,4 milhões, incremento de 24%.
Cada vez menos dependente do Brasil, a empresa vem sustentando as operações na Athena Foods, a subsidiária que reúne os negócios na Argentina, Paraguai, Uruguai, Colômbia e Chile. Notadamente, os uruguaios e paraguaios puxam os resultados. No trimestre, a Athena respondeu por 56% do faturamento.
“Apesar do fechamento da China em setembro, tivemos um desempenho operacionalmente muito bom. Teríamos feito um trimestre fabuloso seguindo a mesma toada de julho e agosto,” disse Edison Ticle, o diretor financeiro da Minerva.
No primeiro momento, a Minerva sentiu o baque do embargo chinês — o gigante asiático costuma responder por 60% das exportações dos frigoríficos brasileiros. Entre julho e agosto, os negócios no Brasil operavam com margens entre um dígito alto e dois dígitos, o que caiu para menos de 4% com a repentina saída chinesa.
A partir de outubro, a companhia já conseguiu recuperar os níveis de margens no Brasil, o que foi favorecido pela queda dos preços do gado e também pelo nível sustentado da carne bovina (Pequim não vai transformar o churrasco de fim de ano numa barganha).
Enquanto a China provocava solavancos nas margens do negócio brasileiro em setembro, a Athena Foods seguiu entregando um nível de margem Ebitda em dois dígitos baixos. Como o Brasil também melhorou, os sinais para o quarto trimestre são positivos, disse Ticle.
No terceiro trimestre, a Minerva reportou uma margem Ebitda de 8,8%, queda de dois pontos na comparação anual. Não fosse o embargo, a companhia romperia a barreira de 10%. Para os próximos meses, a tendência é de margens no mínimo iguais às do terceiro trimestre. “Se tivermos abertura de China, é para cima”.
Num negócio de commodities costumeiramente instável, a administração da Minerva vem argumentado aos investidores que conseguiu um modelo resiliente em geração de caixa . “É o 15º trimestre consecutivo de fluxo de caixa positivo. São quase quatro anos com a companhia gerando caixa religiosamente. Está parecendo um relógio suíço”, brincou Ticle.
Com caixa recheado, a Minerva vem conseguindo manter os índices de endividamento abaixo de 2,5 vezes, patamar que permite o pagamento de dividendos acima do mínimo obrigatório. Em setembro, o indicador ficou em 2,4 vezes — o que foi ajudado pelo aporte de R$ 250 milhões que a família Vilela de Queiroz fez recentemente, subscrevendo um bônus que vencia neste ano. Mesmo após o pagamento dos dividendos, o que será feito no dia 15, o indicador seguirá abaixo de 2,5 vezes.
No mercado, analistas já vinham destacando o desempenho positivo da Minerva, mesmo sem China (o que derrubou as ações da empresa). Na semana passada, o Morgan Stanley reiterou a recomendação de compra dos papéis, o que ajudou a puxar as ações.
Os analistas do banco americano têm um preço-alvo de R$ 16,50, o que embute um potencial de valorização de 58,3% sobre as atuais cotações. A Minerva vale R$ 6,2 bilhões. BEEF3 é negociada a R$ 10,42. No ano, o papel sobe 9,98%.
Fonte: Pipeline