No Brasil, alguns pecuaristas ainda dão pouca ou nenhuma atenção às características agregadas ao produto final (carne), deixando de lado oportunidades de otimização da produção bovina.
Além de ganhos esperados em produtividade e giro na fazenda, o abate de animais precoces influencia diretamente na melhoria da qualidade da carne bovina brasileira.
Outro ponto importante é que o mercado chinês (incluindo Hong Kong), principal importador da carne bovina brasileira, compra carne oriunda de bovinos com menos de trinta meses, com preços pagos para essa categoria com ágio de R$ 5,00 a R$ 15,00 por arroba, comparando ao “boi comum”.
Qual o padrão de diferenciação na carcaça de animais precoces?
As principais exigências quanto à tipificação da carcaça estão distribuídas em três critérios principais:
- Maturidade: avaliada pela arcada dentária, relaciona a troca dos dentes incisivos de leite por permanentes com a idade cronológica, classificando os animais dentro de categorias em função do número de dentes permanentes, podendo ser 0 (zero) dentes de leite, 2, 4 e 6 (intermediário) e 8 dentes (adulto).
- Peso de carcaça: varia de acordo com a definição utilizada, mas, em geral, considera-se 225 kg para machos e 180 kg para fêmeas.
- Acabamento de gordura: mais importante que o peso para abate, o grau de acabamento para essas categorias é avaliado visualmente e, efetivando escores correspondentes à quantidade de gordura que as recobre: escassa (de 1 a 3mm de espessura), mediana (de 3 a 6mm), uniforme (de 6 a 10mm) ou excessiva (acima de 10mm). O escore reflete o grau de gordura na carcaça como um todo. Acabamentos medianos e uniformes são ideais, evitando carcaças com excesso de gordura ou magras, o animal tem maior valorização dada a qualidade das categorias, seja pelos aspectos organolépticos ou visual do corte comercial.
O maior desafio do abate de animais precoces é o grau de acabamento, com uma série de fatores essenciais que influenciam o teor de gordura.
Melhorias das demandas nutricionais e do acabamento de carcaça
A nutrição é um fator decisivo na obtenção do acabamento de carcaça adequado, sendo reflexo da quantidade de gordura corporal que depende da quantidade de energia ingerida.
A quantidade de alimento disponível e seu valor nutricional influenciam diretamente no acabamento.
Técnicas como suplementação proteico-energética, semiconfinamento e confinamento são recomendadas para alcançar índices adequados de acabamento. Porém, por se tratar de um investimento maior, um balanço entre receita e custo deve ser respeitado para a atividade ser justificável.
O desafio é encontrar planos nutricionais eficientes e eficazes, sendo orientados às categorias, grupos raciais, sexos e condições ambientais específicas, otimizando o uso dos recursos nutricionais e obtendo uma relação custo-benefício favorável. O uso de pastagens de boa qualidade deve sempre ser a base dos investimentos em nutrição.
Melhoria de acabamento via uso de genética animal
Genética e nutrição são os fatores que mais influenciam o alcance do acabamento adequado. Além das diferenças entre raças, observa-se diferença individual dentro da mesma raça e essa variabilidade pode ser utilizada a favor do pecuarista.
Hoje, praticamente todas as raças realizam avaliações genéticas para características de acabamento, permitindo melhor escolha pelo produtor.
A escolha da genética deve priorizar, além da deposição de gordura na carcaça, animais com potencial de crescimento adequado.
Ampliação do uso de cruzamentos de bovinos
O cruzamento é utilizado há anos para melhorar o desempenho, eficiência e a qualidade de carcaça e carne no Brasil, normalmente, somando rusticidade de raças zebuínas com características desejáveis de raças taurinas.
O uso da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) proporcionou o crescimento de cruzamentos, principalmente entre gado Nelore e Angus. O avanço tecnológico trouxe também a possibilidade do uso da técnica de produção de embriões in vitro (PIV), para produção de bezerros cruzados para corte, intensificando os resultados.
A diversidade de condições ambientais, sistemas de produção e objetivos na pecuária nacional abre espaço para a busca de genótipos mais adequados em cada cenário. Tanto entre raças, quanto dentro de cada raça, é evidente a variabilidade em desempenho, qualidade de carcaça, precocidade e rusticidade.
Técnicas de manejo do bezerro na fase pré-desmama
Para animais precoces, a saúde e o bom peso para desmama são essenciais. Os cuidados na fase pré-desmama são importantíssimos e um melhor desempenho contribuirá com a eficiência das fases seguintes. Melhorias no manejo representam aumentos dos custos e devem ser realizadas de forma racional.
A avaliação das tecnologias existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias são importantes. A desmama precoce e o creep feeding são exemplos de tecnologias nas quais o uso racional pode contribuir no processo produtivo.
A desmama precoce melhora os índices reprodutivos de matrizes em condições nutricionais limitadas, como primíparas, e a suplementação é essencial entre o período de 110 a 240 dias.
O sistema de creep feeding tem impacto direto sobre o peso para desmama, com suplementação da alimentação de bezerros durante o aleitamento em pequena área dentro do pasto, cercada para que apenas os bezerros tenham acesso aos cochos com suplemento.
Vale mesmo a pena investir no abate de animais jovens?
A carne produzida por animais precoces possui maior valor agregado, é mais bem remunerada e mais amplos são os mercados que se pode alcançar.
Dessa forma, são muitas as vantagens da utilização de novilhos no abate, mas, como qualquer mudança e alteração no modo de se produzir, demanda planejamento e conhecimento técnico sobre o assunto.
Toda a estruturação da propriedade, bem como os manejos que serão adotados, devem ser previamente planejados, pois pequenos contratempos no caminho podem significar grandes prejuízos para o pecuarista.