Agronegócio e sustentabilidade caminhando lado a lado
Em 2022, as atividades agropecuárias representaram 25% do valor do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – correspondendo a R$110 bilhões, segundo a CNA e o CEPEA/Esalq-USP.
O Plano ABC e as adaptações para uma agropecuária mais sustentável
A nível nacional, temos o Plano ABC, um plano setorial de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas para a consolidação de uma economia de baixa emissão de carbono na agricultura. O Plano ABC foi desenvolvido de acordo com o artigo 3º do Decreto Federal 7.390/2010, com o intuito de organizar o planejamento e a execução de ações para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no setor agropecuário brasileiro.
Dentre as ações e metas do Plano ABC, estão a implementação das seguintes práticas: a recuperação de pastagens degradadas, a adoção de sistemas integrados (ILP e ILPF) e sistemas agroflorestais (SAFs), a adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD), a difusão da fixação biológica de nitrogênio (FBN), a expansão de áreas plantadas e o tratamento de dejetos animais em confinamento.
O Plano ABC esteve vigente até 2020 e, a partir de 2021, entrou em vigência o Plano ABC+, uma atualização do programa com metas mais ambiciosas relacionadas aos compromissos de sustentabilidade da produção agropecuária ao longo da próxima década. Os resultados alcançados pelo Plano ABC desde a sua vigência até 2018 podem ser vistos na tabela 1.
Tabela 1. Resultados alcançados pelo plano ABC entre 2010 e 2018, na agropecuária.
Quais são os impactos da atividade pecuária no mundo?
As atividades agropecuárias são responsáveis por 43% das emissões de gases de efeito estufa como o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o gás carbônico (CO2), provenientes do rebanho, do uso de fertilizantes nitrogenados e da degradação das pastagens, respectivamente (Banco Mundial, 2020).
A recuperação de pastagens degradadas é uma prática extremamente relevante para o setor. A degradação dos pastos resulta em redução da disponibilidade e qualidade das forrageiras, além da redução da matéria orgânica depositada no solo e no aumento da emissão de CO2 na atmosfera.
A taxa de lotação é de 0,7 bovino/hectare (Embrapa) em áreas de pastagens degradadas, enquanto no cenário oposto, em áreas com pastagens recuperadas e bem manejadas, a taxa de lotação é de 2,5 bovinos/hectare – o que representa um ganho na eficiência na produção pecuária e na mitigação das emissões de GEE.
Na atividade pecuária, há uma grande produção de resíduos. Nos confinamentos, há dificuldade em captar os dejetos que sofrem ação de microrganismos e liberam gases de efeito estufa. Para contornar essas emissões, o uso desses resíduos na fertilização de pastagens e lavouras pode minimizar os impactos gerados.
A construção de biodigestores nos confinamentos é outra prática sustentável que pode ser incorporada ao setor pecuário. Ela é capaz de produzir o biometano, um gás gerado a partir da decomposição dos dejetos, e que contribui para diminuir os custos com energia da propriedade, já que é capaz de gerar energia elétrica, além de reduzir as emissões de GEE por essa fonte.
Vale ressaltar que, embora a produção pecuária que mais libera dejetos é a bovina, os que produzem maior quantidade de biogás são os suínos, conforme apresentado na tabela abaixo (tabela 2).
Tabela 2. Expectativa da produção de biogás por biomassa.
Além dos dejetos porteira adentro, a quantidade de despojo (resíduos animais provenientes do abate) produzida no processamento é significante. Estima-se que 68% do frango, 62% do suíno e 54% do bovino são consumidos – o restante é classificado como produtos não comestíveis.
Os principais resíduos de bovinos são o sebo, os ossos, o sangue, as vísceras, os cascos e chifres. Tais resíduos originam produtos como farinha de carne e ossos, biodiesel, rações animais, sabão, farinha de sangue e muitos outros.
O processamento do despojo é realizado por graxarias ou recicladoras, que comercializam os produtos para os mercados de biodiesel, pet food, higiene e limpeza etc.
Agricultura de baixa emissão de carbono
O Código Florestal brasileiro e a Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012 estabelecem regras sobre a preservação e proteção de áreas florestais e são um dos dispositivos de preservação ambiental mais rígidos do mundo.
Além disso, colocam a agropecuária e a preservação florestal em posição estratégica no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia sempre guiados pelo desenvolvimento sustentável.
A agricultura de baixa emissão de carbono propõe práticas que auxiliam na redução das emissões de carbono, como por exemplo o sistema de plantio direto (SPD) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Além dessas práticas, podemos contar com a fixação biológica de nitrogênio (FBN) para garantir condições adequadas para o crescimento das culturas e mitigar as emissões de GEEs.
Para que a FBN seja efetiva, é necessário condições edafoclimáticas adequadas, investimento na adubação verde e na rotação de cultura, entretanto, para que ela possa ocorrer, é crucial que haja a preservação da biodiversidade, sobretudo do solo.
A FBN ocorre exclusivamente com a presença de bactérias benéficas que são capazes de converter a amônia a nitrato, e por outros processos químicos naturais, nitrato a nitrogênio.
Essas práticas têm sido grandes responsáveis pela popularização da agricultura sustentável, além de apresentarem ótimos resultados aos produtores, diminuindo o custo de produção, e aumentando os ganhos por hectare.
A remoção de carbono atmosférico é o processo de retirada de gás carbônico da atmosfera por meio do processo da fotossíntese de plantas, algas e cianobactérias e a fixação do carbono no solo, na biomassa das árvores e no fundo dos oceanos.
Uma das formas mais eficazes de remover carbono atmosférico no setor agrícola é por meio das práticas de agricultura regenerativa, como, por exemplo, o plantio direto, a recuperação e manejo nutricional das pastagens, uso racional de fertilizantes, sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta e o reflorestamento. Além disso, vale ressaltar a importância da conservação de florestas nativas, evitando emissões e preservando a biodiversidade.
O Programa Renove, criado pela Minerva Foods, visa implementar uma agropecuária sustentável, rentável e com baixa emissão de carbono. O projeto abrange centenas de propriedades rurais em 5 países e atua de maneira colaborativa com os pecuaristas.
Por meio do manejo agropecuário, da restauração e da preservação florestal, as propriedades podem se desenvolver de maneira sustentável.
O Renove está pautado em três componentes importantes para seu desenvolvimento: as finanças verdes, a capacitação e as parcerias técnicas.
As práticas sustentáveis nas propriedades podem trazer benefícios socioeconômicos e ambientais, como: a geração de créditos de carbono; a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs); o aumento da produtividade e rentabilidade para o produtor rural; a manutenção da qualidade do solo; e o acesso a mercados diferenciados para o produtor, como por exemplo.
Os créditos de carbono estimulam o incentivo de adoções de sistemas produtivos sustentáveis a fim de evitar ou neutralizar as emissões de carbono. O mercado de créditos de carbono cresceu 20% no último ano no mundo e movimentou US$227 bilhões, o que mostra que é possível construir uma agropecuária cada vez mais sustentável. Nesse sentido, a Minerva criou a MyCarbon, empresa com a missão de desenvolver projetos de originação de créditos de carbono e comercializá-los de acordo com os padrões internacionais, criando oportunidades financeiras para a preservação da natureza, acelerando a ação climática e promovendo um futuro de baixo carbono.