O Brasil possui 219,2 milhões de cabeças de bovinos em 2020, segundo dados do IBGE. O mesmo levantamento aponta que o abate de bovinos foi de 29,8 milhões de cabeças, produzindo 7,77 milhões de toneladas de equivalente carcaça e exportando 1,72 milhões de toneladas de carne bovina in natura em 2020 (Secex), o que confere ao nosso país o primeiro lugar no ranking mundial de exportação de carne.
Desde 2000, o número de animais abatidos no país cresceu 174%, saindo de aproximadamente 17 milhões de cabeças em 2000 e atingindo, em 2020, 29,8 milhões de cabeças, considerando apenas os abates formais (federal, estadual e municipal).
A área de pastagens no Brasil é de 182,45 milhões de hectares, equivalente a 21,46% do território nacional, com uma lotação animal de 0,86 UA/ha (lembrando que 1UA=450kg). Cerca de 54% dessa área apresenta algum estado de degradação, ou seja, 99,3 milhões de hectares (Lapig³).
Mesmo com esses números produtivos muito expressivos, ainda há, em nosso país, espaço para crescimento mantendo a área atualmente ocupada pela pecuária.
Com o uso de tecnologias, a fim de intensificar o processo produtivo, é possível aumentar taxa de lotação, prenhez, desmame e desfrute. Concomitantemente, é possível diminuir idade ao primeiro parto, taxa de morbidade, mortalidade e idade de abate.
Através de investimentos realizados nas pastagens degradadas é possível obter melhoras nos índices zootécnicos, portanto aumentos na produtividade, que geram melhoras nos resultados financeiros da atividade pecuária.
Mas afinal, o que é considerado degradação de pastagem?
A degradação acontece quando há perda de vigor e produtividade da forrageira em questão, sem possibilidade de recuperação natural, prejudicando o desempenho animal e levando a degradação do solo (Macedo et al., 2000).
A degradação das pastagens ocorre devido diversos motivos, entre eles:
- escolha pobre da espécie forrageira;
- intensidade de pastejo incorreta;
- manejo incorreto da adubação da pastagem;
- taxas de lotação que não condizem com a área;
- ataque excessivo de pragas, alta infestação de plantas daninhas.
Somam-se a esses fatores abióticos como drenagem de solo, fertilidade do solo de acordo com sua estrutura e origem, níveis de pluviosidade e irradiação solar.
Alguns manejos são imprescindíveis para evitar a degradação e, consequentemente, levam a uma pecuária intensiva:
- manejo de pastejo rotacionado, respeitando o controle de altura do capim;
- suplementação animal;
- adubação de manutenção das pastagens;
- lotação animal condizente com área e tempo de pastejo.
Como conduzir a recuperação das pastagens degradadas?
A recuperação das pastagens pode ser realizada de diversas formas, entre elas:
- Realizar investimentos em uma pequena área, com isso o investimento é menor, quando comparado à área inteira, e o pecuarista vê os resultados positivos com retorno econômico rápido.
- O consórcio de gramíneas tropicais com leguminosas possui diversos benefícios. Pensando na nutrição de plantas, a leguminosa atua na fixação biológica de nitrogênio aumentando o N disponível para a gramínea, diminuindo a necessidade do uso de adubos nitrogenados, cuja fabricação libera óxido nitroso (N₂O), importante gás de efeito estufa. Quanto à nutrição animal, a leguminosa possui maior teor proteico quando comparado com gramíneas tropicais.
- Implantação de sistemas, com componentes agrícolas, florestais e pecuários, possuindo diferentes possibilidades de interações entre eles. Essa estratégia é mais comum quando há a necessidade de uma reforma drástica da pastagem, que pode ser devido a diversos fatores como compactação ou erosão de solo, necessidade de correção do solo em profundidade, elevados níveis de plantas invasoras. É possível manter ou não a mesma espécie forrageira.
Plano ABC
O Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) foi desenvolvido durante os anos de 2010 e 2011, cujo objetivo consiste na produção dos setores agrícolas e pecuários mais ambientalmente corretos, com menores emissões de carbono. O plano foi aprovado em 2011, a fim de nortear os passos referentes à diminuição de emissão de gases de efeito estufa, acordados na COP-15 em Copenhague, no ano de 2009.
Está nas linhas de ações do Plano ABC:
- a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas;
- aumentar a implantação de sistemas agroflorestais e de integração (agropastoril, agrossilvipastoril, silvipastoril ou silviagrícola);
- aumentar as áreas que realizam o sistema de plantio direto e utilizam a fixação biológica de nitrogênio;
- promover o reflorestamento no país; e por fim aumentar as tecnologias empregadas no processamento de dejetos animais.
Em abril deste ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) lançou uma atualização do Plano ABC, o Plano ABC+.
Além das estratégias supracitadas do Plano ABC, no ABC+ foram incluídos:
- difusão de tecnologias e capacitação de assistência técnica;
- estimular e apoiar às pesquisas relacionadas à sustentabilidade e controle de emissão de gases de efeito estufa;
- criar e auxiliar mecanismos que valorizem produtos e processos sustentáveis;
- aumentar auxílios e fomentos para sistemas sustentáveis;
- e fomentar o setor agropecuário a fim de incentivar a regularização ambiental.
O lançamento do plano de ação detalhado está previsto para o segundo semestre deste mesmo ano, mas o propósito permanece o mesmo: aumentar a sustentabilidade e resiliência do setor do agronegócio frente às mudanças climáticas.
Linhas de crédito para recuperação de pastagens degradadas
As linhas de crédito do plano ABC englobam financiamentos do BNDES e Banco do Brasil, além do Pronaf, mais voltado para agricultura familiar.
O financiamento do BNDES tem uma taxa de juros anual de 4,5% para projetos de recuperação de pastagens com um prazo de 10 anos para quitar o débito, com até 5 anos de carência.
Entretanto, atualmente, essa linha de financiamento está suspensa devido ao comprometimento dos recursos disponíveis (BNDES).
O financiamento realizado pelo Banco do Brasil, está disponível, entre outras opções, para a recuperação de pastagens (ABC RECUPERAÇÃO), cuja taxa de juros é de 6% ao ano com prazo de pagamento de 12 anos, com até 8 anos de carência (Banco do Brasil).
Ambos os financiamentos, limitam o valor máximo em R$5 milhões por beneficiário, por ano agrícola.
Foi lançado no dia 20 de abril deste ano resultados do plano ABC, com dados de 2010 a 2018. Foram mitigadas 170 toneladas de gás carbônico (CO₂), quando a expectativa era de 133 a 163 toneladas de CO₂, mostrando que é possível diminuir a emissão de gases de efeito estufa no setor agropecuário brasileiro tendo como base, a ciência.
Produzir com consciência de olho no amanhã
A pecuária brasileira está em um patamar de destaque na economia mundial, mesmo com baixas produtividades médias no país.
Um pouco mais da metade da área de pastagens no país está em algum grau de degradação, mostrando a necessidade em investimentos para reverter esse cenário.
O mundo está caminhando em uma pegada mais sustentável, com isso existe a necessidade de se adaptar ao novo processo produtivo e o plano ABC tem colaborado para essa nova realidade de baixa emissão de carbono.