A agenda da sustentabilidade e de combate ao desmatamento na cadeia de produção da carne bovina, que envolve informações sobre a rastreabilidade do animal, melhor manejo do solo, bem-estar do animal, por exemplo, não se trata de mera retórica. Ela tem impactos diretos na rentabilidade do negócio.
“A sustentabilidade hoje vai além da questão de compliance, de conformidade. A sustentabilidade para o Minerva Foods é negócio”, afirmou Taciano Custódio, diretor de Sustentabilidade do frigorífico.
Ele foi um dos participantes do painel sobre “Proteção dos ecossistemas e o monitoramento da cadeia de carne: resultados alcançados, desafios e oportunidades“, durante o primeiro dia da Conferência Brasil Verde 2021, evento realizado pelo Estadão.
Custódio destacou que se trata de uma oportunidade de abertura de novos mercados, de posicionamento comercial com compradores que pagam mais pelo produto e que encaram a sustentabilidade como atributo.
A partir do momento que o produtor começa a investir em sustentabilidade da sua ocupação territorial, observando o número de animais por hectare, melhor manejo do solo, considerando o bem-estar animal, sistemas integrados, isso se reflete na melhora da sustentabilidade dessa ocupação do território e significa rentabilidade, observou Custódio. E o produtor se posiciona melhor no mercado, argumentou. “O grande desafio é se conectar não só com a ética do compliance, mas com o efeito da rentabilidade.”
O executivo frisou que a demanda mundial por carne é crescente. A China, um grande comprador de proteína animal e um dos principais mercados para a companhia e demais países dedicados à pecuária, recentemente reforçou preocupações com o meio ambiente.
A potência asiática deverá concentrar 66% da classe média global até 2030, segundo o Banco Mundial, lembrou Custódio. Isso significa uma forte demanda potencial de carne bovina e de outros produtos por conta dessa classe com maior poder de consumo e ávida por alimentos. E os produtores preparados terão enormes oportunidades.
Gargalos
Pedro Burnier, gerente do Programa de Cadeias Agropecuárias da ONG Amigos da Terra-Amazônia Brasileira, disse que nos últimos dois anos os investidores começaram a pressionar as empresas para o monitoramento da cadeia completa.
Segundo ele, os fornecedores diretos da cadeia da carne estão sendo bem monitorados. Dados mostram que esses fornecedores diretos, que engordam o boi, respondem por 32% do desmatamento. A maior parte da dizimação das matas ocorre com fornecedores indiretos da cadeia da carne, fazendas de cria e recria de bezerros. Nos últimos anos, surgiram ferramentas para obter soluções para o monitoramento dos produtores indiretos, observou. Essa seria uma dificuldade.
Custódio ponderou, no entanto, que o Brasil lidera a pauta com informações sobre os pecuaristas. Ele disse desconhecer um país que tenha uma lista tão extensa de áreas ambientais embargadas. Mas frisou que aumentar a disponibilidade de acesso a esses dados é fundamental.
Atualmente, 76% das empresas do setor passam por inspeção federal, e o restante está na esfera municipal e estadual de fiscalização da cadeia da carne. “É preciso aumentar a inspeção sanitária para ampliar a sanidade e a sustentabilidade.”
A preocupação com o monitoramento da cadeia da carne hoje vai além do investidores e de barreiras não tarifárias de governos. Ela já apareceu no prato do brasileiro. Burnier constatou, por meio de uma ampla pesquisa feita em 2018 e que serviu como base de sua tese de doutorado, que o consumidor está preocupado com atributos intrínsecos da carne que leva para a mesa.
Questões como de onde vem o produto, sobre o bem estar animal estão no radar dos brasileiros que declararam estar dispostos a desembolsar mais pela carne rastreada. “O consumidor está começando a demandar mais atributos intangíveis.”
Fonte: MSN Brasil