Com a trajetória de redução do endividamento comprometida pela desvalorização do real e um prejuízo de quase R$ 1 bilhão no segundo trimestre deste ano, a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, deu início a estudos para fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO) de suas operações internacionais na bolsa do Chile. Em bases anuais, o faturamento das operações internacionais da empresa é de pouco mais de R$ 6 bilhões, 40% da receita total.
O plano é que os ativos da Minerva fora do Brasil – o que inclui fábricas na Argentina, Paraguai, Uruguai e Colômbia – fiquem sob o guarda-chuva da subsidiária chilena Athena Foods. Segundo o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, o IPO da Athena seria realizado em até um ano, ajudando a Minerva a acelerar seu processo de desalavancagem.
Por meio do IPO, a Minerva venderia uma participação minoritária de ao menos 25% da Athena na bolsa chilena. A companhia não divulga quanto quer obter com a oferta, mas o Valor apurou que a subsidiária poderia ser avaliada por ao menos R$ 4 bilhões. Isto é, mais que o atual valor de mercado da própria Minerva na B3, que ontem era de R$ 1,6 bilhão.
O conselho de administração da Minerva aprovou o início dos estudos para o IPO ontem. O aval do colegiado ocorreu no mesmo dia em que a Minerva reportou prejuízo líquido de R$ 926 milhões no segundo trimestre devido ao impacto (sem efeito sobre o caixa) da desvalorização do real ante o dólar sobre as dívidas em moeda estrangeira. Em igual período do ano passado, havia registrado prejuízo de R$ 55,6 milhões.
Por causa disso, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda em doze meses) atingiu 5 vezes no fim de junho, quando a dívida líquida somava R$ 6,8 bilhões. No fim do primeiro trimestre, a dívida era de R$ 5,9 bilhões, e a alavancagem estava em 4,5 vezes.
Até o fim de 2017, antes das oscilações cambiais bruscas vistas este ano, os executivos da Minerva acreditavam que a integração dos frigoríficos no Mercosul adquiridos da JBS bastaria para a alavancagem ficar perto de 3 vezes ainda em 2018.
Operacionalmente, a integração dos ativos já mostrou resultados, disse Fernando Galletti de Queiroz, presidente da Minerva. Impulsionada pela ampliação das exportações de carne bovina dos frigoríficos da Argentina e pela desvalorização cambial, a receita líquida da Minerva atingiu R$ 3,7 bilhões no segundo trimestre, 44,8% acima do mesmo intervalo de 2017. Nessa mesma base de comparação, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cresceu 27,4%, para R$ 353,4 milhões.
Se fosse apenas pelas operações, a Minerva teria reduzido a alavancagem, disse Galletti. No segundo trimestre, o fluxo de caixa livre ficou positivo em R$ 244,2 milhões, ajudado pela redução de R$ 200 milhões da necessidade de capital de giro. Descontando a variação do valor em reais da dívida em dólar, o índice de alavancagem teria caído 0,3 ponto, para 3,8 vezes.
Com o IPO no Chile, os executivos da Minerva entendem que poderão reduzir a alavancagem e gerar valor aos atuais acionistas. A avaliação é que a abertura de capital pode ser feita com um múltiplo (relação entre o valor empresarial e Ebitda) maior do que os atuais da Minerva, que oscilam entre 5 e 6 vezes. A Minerva seria a primeira empresa de proteína animal listada na bolsa do Chile e os investidores potenciais seriam fundos de pensão privados.
Indagado, Ticle não quis revelar a avaliação que a Minerva espera obter para a Athena no IPO. Ele também não abriu o Ebitda da operação. Mas considerando que a Athena seja responsável por 35% do Ebitda anual da Minerva (cerca de R$ 475 milhões) e o múltiplo do IPO chegue a 8 vezes, a subsidiária seria avaliada em R$ 3,8 bilhões. Com a venda de uma fatia de 25%, a Minerva poderia angariar cerca de R$ 950 milhões para reduzir seu endividamento.
Fonte: Valor