Estresse térmico em gado de corte: não permita que o calor derreta seus lucros! - Minerva Foods | Criando conexões entre pessoas, alimentos e natureza.
Estresse térmico em gado de corte: não permita que o calor derreta seus lucros!

Estresse térmico em gado de corte: não permita que o calor derreta seus lucros!

06/01/2021

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Em animais confinados, o estresse térmico ocorre em vários graus e é comum em diferentes regiões produtoras de carne bovina no mundo, como Estados Unidos, Austrália e Brasil (Brown-Brandl, 2018). Nesses países, as ondas de calor são um fenômeno que ocasionaram perdas substanciais para a indústria de confinamento na última década.

Para se manter saudável, obrigatoriamente, o animal tem de manter sua temperatura corporal dentro de uma faixa ótima.

Se a quantidade de calor metabólico produzido internamente pelo animal, adicionada ao calor absorvido do ambiente externo começam a exceder a perda, o animal começa a acumular calor e, em fortes ondas quentes associadas à alta umidade do ar, radiação solar e velocidade do vento, o animal pode chegar a morte por hipertermia (quando a temperatura do corpo passa dos 40°C).

Relação entre conforto térmico e produtividade dos bovinos de corte

Existem dados na literatura que mostram que quando a temperatura ambiente está entre 25 a 35 °C, temos a redução de 3 a 5% do consumo de matéria seca – MS (MLA). Além disso, quando essa temperatura ambiente passa de 30 °C, temos o aumento da frequência respiratória e da respiração pela boca e, consequentemente, o aumento do requerimento de manutenção (NRC, 2000).

Dessa maneira, o estresse térmico leva não somente a uma redução de consumo, mas também a um aumento da energia de manutenção. Assim, o efeito negativo é ainda mais potencializado, sobrando menos energia para ganho de peso.

O estresse térmico também é conhecido por causar a diminuição da imunidade do animal, aumentando a liberação do cortisol, um hormônio imunossupressor, impactando na saúde e no desempenho dos animais (Hall et al, 2018). Além disso, o estresse térmico pode aumentar a incidência de acidose ruminal, que ocorre devido ao aumento da perda de CO2 pela respiração e a redução do fluxo de tampão salivar para o rúmen em decorrência da diminuição de tempo deitado e menor ruminação (Mishra et al., 1970).

Em países de clima temperado, onde prevalecem rebanhos com genética taurina, reconhecidamente menos tolerante ao calor, o emprego de técnicas para reduzir o estresse calórico é comum. No Brasil, como os animais confinados são predominantemente zebuínos, os pecuaristas acabam desconsiderando o desconforto do Nelore, acreditando que a raça não sofre com as temperaturas elevadas, pois geralmente apresenta sinais físicos com menor intensidade em comparação com animais de genética taurina. No entanto, com uma observação mais atenta, podemos encontrar quedas de consumo de MS em momentos de calor, por exemplo, o que causará menor ganho de peso.

Como identificar o estresse térmico e minimizar os impactos no rebanho

A adoção de estratégias para identificar o estresse térmico e amenizar os seus impactos negativos é bastante importante, diminuindo as perdas, aumentando o ganho de peso, diminuindo o índice de doenças e melhorando a eficiência produtiva.

O uso de ferramentas capazes de monitorar os efeitos do estresse térmico em animais confinados, inclusive da raça Nelore, começou a ganhar força.

  • Panting score

A classificação de Panting score, por exemplo, é uma metodologia já usada em países como a Austrália e que, agora, também começa a ser utilizada no Brasil. A classificação Panting score avalia a taxa de respiração de animais sob estresse térmico (Meat and Livestock Australia 2006), cuja escala de referência vai de 0 a 4.5, sendo o zero uma condição de conforto e o 4.5, de extremo desconforto, como pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 1. Panting score, condição respiratória e a frequência respiratória associada.

  • Heat Load Index (HLI)

Outra ferramenta que pode auxiliar na identificação do estresse térmico é uma estatística de monitoramento chamada Heat Load Index (HLI) ou Índice de Carga de Calor.

Trata-se de um cálculo matemático baseado em informações fornecidas por estações meteorológicas (temperatura, umidade, pressão, velocidade de vento e chuva), que são associadas aos dados referentes a cada tipo de animal (sexo, raça, idade e cor da pele) e parâmetros estruturais dos lotes (quantidade de lama, sombra, período de dias em confinamento, dentre outros fatores; Gaughan et al., 2008).

Inicialmente desenvolvido por um pesquisador australiano, ele está sendo adaptado para a realidade das fazendas brasileiras.

Em carga de calor excessiva, os animais confinados podem passar por condições precárias de bem-estar animal e apresentar perdas de produção significativas. Altas cargas de calor corporal podem ocorrer quando uma combinação de condições ambientais locais e fatores animais excedem a capacidade do animal de dissipar o calor corporal.

Com o histórico de HLI de um determinado confinamento, é possível promover ajustes nutricionais e de manejo, tendo como objetivo reduzir o impacto do calor sobre o desempenho animal. Até o momento, o HLI é utilizado para avaliar o que foi impactado, no entanto, com novas ferramentas e um melhor entendimento do problema, acredita-se que o objetivo será olhar para frente, antecipando o problema e preparando cada confinamento para as ondas de estresse térmico, evitando perdas de desempenho e problemas sanitários.

Como evitar a ocorrência de estresse térmico nos animais

Abordagens de manejo, como estratégias de alimentação, dietas e melhoria das instalações são realizadas a fim de reduzir a carga de calor do animal.

A utilização de sombra é um meio de reduzir a exposição à radiação solar direta (Mader et al., 1997). Uma simples estrutura de sombra pode reduzir a carga de calor radiante em 30% ou mais, por meio da interceptação da radiação solar direta (Bond e Laster, 1975) e, com isso, reduzir perdas de mortalidade em condições extremas, melhorar ganho de peso dos animais, eficiência alimentar e ganho de carcaça (Mitlöhner et al., 2002; Gaughan et al., 2010; Sullivan et al., 2011).

A manipulação na formulação da dieta também é uma ferramenta viável quando se pretende minimizar os efeitos negativos da carga de calor, como inclusão de gordura (Moody et al., 1971), de colina (Overton e Waldron, 2004), niacina (Zimbelman et al., 2010) ou OmniGen-AF, que mostrou ser capaz de reduzir a temperatura corporal dos animais, indicando menor estresse térmico e, consequentemente, menor interferência na saúde e no desempenho (Burdick et al., 2012; Burdick Sanchez et al., 2014; Crook et al., 2016; Colombo et al., 2019; Batista et al., 2019).

De maneira geral, as preocupações sobre conforto ambiental e bem-estar animal estão cada vez maiores e os sistemas de produção estão procurando atender a essas exigências.  Dessa maneira, temos que o HLI e a classificação de Panting score são ferramentas importantes para auxiliar os confinamentos a quantificar o risco de um evento de calor e, consequentemente, estruturar protocolos para monitoramento e estratégias para redução do estresse e seus efeitos negativos na produtividade.

Artigo adaptado DBO Edição agosto de 2020