A importância da carne, especialmente para mulheres, gestantes, crianças e idosos Por Diana Rodgers, RD
À medida que os debates sobre sistemas alimentares e sustentabilidade ganham força, cresce também a pressão por dietas baseadas em vegetais. Embora eu apoie uma alimentação consciente, ética e sustentável, é fundamental que não deixemos de lado a importância da nutrição, especialmente para aqueles com maiores necessidades nutricionais.
Mulheres, gestantes, crianças e idosos são particularmente vulneráveis a deficiências de nutrientes. Na ânsia de demonizar a carne vermelha, corremos o risco de comprometer a saúde justamente de quem mais precisa de sua densidade nutricional. Por isso, fui coautora do artigo publicado na Frontiers in Nutrition intitulado “Considering the Nutritional Benefits and Health Implications of Red Meat in the Era of Meatless Initiatives” (“Considerando os benefícios nutricionais e as implicações da carne vermelha para a saúde na era das iniciativas sem carne”). O texto destaca o papel essencial da carne vermelha na saúde humana e como as mensagens contra a carne frequentemente ignoram realidades críticas.
Vamos entender por que a carne vermelha continua sendo uma parte vital e insubstituível da dieta, especialmente para mulheres em diferentes fases da vida, crianças pequenas, idosos e até mesmo quem busca emagrecer.
Carne: o alimento com maior densidade nutricional
A carne, especialmente a vermelha, é um dos alimentos mais densos em nutrientes do planeta. E
ela fornece:
- Proteína completa com todos os aminoácidos essenciais em forma altamente biodisponível
- Ferro heme, muito mais absorvível do que o ferro não heme das plantas
- Vitamina B12, encontrada naturalmente apenas em alimentos de origem animal, essencial para a saúde neurológica e cognitiva
- Zinco, importante para a imunidade e a síntese de DNA
- Vitaminas lipossolúveis como A, D, E e K2, difíceis de obter em quantidades significativas a partir de plantas
- Outras vitaminas do complexo B como niacina, riboflavina e B6
Muitos substitutos vegetais não conseguem reproduzir esse perfil nutricional único. A fortificação e a suplementação tentam imitar o que a carne oferece naturalmente, mas com menor eficiência e, muitas vezes, maior impacto ambiental e custo.
Por que mulheres precisam de carne vermelha
As mulheres, especialmente em idade fértil, enfrentam demandas nutricionais elevadas. A perda de sangue durante a menstruação aumenta o risco de anemia por deficiência de ferro. Alimentos vegetais como o espinafre até contêm ferro, mas em sua forma não heme, de baixa absorção e ainda inibido por compostos como fitatos e oxalatos presentes nesses mesmos alimentos.
A carne vermelha contém ferro heme, absorvido entre 15% e 35%, enquanto o ferro não heme tem absorção entre 2% e 20%. Essa diferença pode significar passar o dia com energia ou sofrer com fadiga, dores de cabeça e confusão mental, sintomas clássicos de baixos níveis de ferro.
A vitamina B12 também é uma preocupação. Essencial para a saúde do cérebro, formação dos glóbulos vermelhos e metabolismo energético, sua deficiência pode simular demência e causar danos irreversíveis nos nervos, se não tratada. Apenas alimentos de origem animal a fornecem naturalmente. Os suplementos nem sempre são bem absorvidos, especialmente no caso de pessoas com problemas digestivos ou condições genéticas específicas.
As necessidades únicas das gestantes.
A gravidez é um período de mudanças fisiológicas intensas. O volume sanguíneo aumenta em quase 50%, elevando a demanda por ferro, folato e B12. No artigo da Frontiers, destacamos que até 50% das gestantes em países de renda média e alta têm anemia, principalmente por deficiência de ferro.
As consequências vão além da saúde da mãe. A deficiência de ferro durante a gravidez está ligada a parto prematuro, baixo peso ao nascer e atraso no desenvolvimento cognitivo do bebê. Mais uma vez, a carne vermelha é a fonte dietética mais eficaz de ferro heme e B12, nutrientes essenciais para formar novos glóbulos vermelhos, sustentar a placenta e nutrir o feto.
A gravidez não é momento para restrições alimentares. É momento de alimentos naturais e
densos em nutrientes, e a carne vermelha oferece esses elementos de forma facilmente utilizável
pelo corpo.
Crianças: cérebros e corpos em crescimento precisam de carne
A primeira infância é um período de rápido desenvolvimento cerebral e físico. Proteína, ferro, zinco e B12 são nutrientes fundamentais nesse processo, e a carne vermelha fornece todos eles.
A deficiência de ferro em crianças pequenas está associada a atrasos no desenvolvimento
cognitivo, dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Embora cereais sejam
anunciados como “fortificados com ferro”, trata-se de ferro não heme, menos eficaz e, em
excesso, potencialmente prejudicial ao intestino.
O zinco também é essencial para crescimento, imunidade e cicatrização. A carne vermelha está
entre as melhores fontes de zinco biodisponível. E a vitamina B12, mais uma vez, é fundamental
para o desenvolvimento neurológico nessa fase inicial da vida.
O mais preocupante é que iniciativas escolares sem carne e políticas “plant-forward” estão sendo
implementadas sem considerar esses fatos. No artigo, defendemos a equidade nutricional, não
apenas políticas ambientais, que priorizem a saúde das crianças.
Idosos: prevenção da fragilidade e do declínio cognitivo
Com o envelhecimento, aumenta o risco de sarcopenia, a perda gradual de massa muscular e força. Isso contribui para quedas, fraturas, internações e perda de qualidade de vida.
A proteína de alta qualidade é o principal fator dietético para prevenir e retardar a sarcopenia. A carne vermelha fornece essa proteína, além de leucina e outros aminoácidos que estimulam a síntese muscular. As proteínas vegetais, em comparação, são incompletas e precisam ser combinadas estrategicamente para se aproximar do perfil da carne.
Além disso, idosos absorvem menos B12 devido à redução do ácido estomacal e da eficiência digestiva. Como a deficiência dessa vitamina pode causar perda de memória e simular demência, confiar apenas em suplementos não é suficiente. O consumo regular de carne vermelha garante um suprimento contínuo de B12 em sua forma ativa e natural.
O ferro também continua sendo importante na velhice, especialmente em pessoas com doenças crônicas ou que tomam medicamentos que afetam a absorção deste nutriente.
Carne vermelha e controle de peso: o fator saciedade
Outro benefício pouco discutido da carne vermelha, especialmente os cortes magros, é seu alto poder de saciedade. A proteína é o macronutriente mais saciante, o que ajuda a manter a saciedade por mais tempo e a reduzir o consumo calórico sem dietas restritivas.
A carne vermelha magra contém entre 20g e 25g de proteína de alta qualidade por 100g, sendo excelente para quem quer emagrecer ou manter uma boa composição corporal. Ao contrário de muitos produtos vegetais processados, que dependem de óleos refinados, aditivos ou espessantes para imitar a carne, um bife magro ou hambúrguer de carne moída entrega comida de verdade, proteína de verdade e saciedade real.
Incluir carne vermelha magra nas refeições ajuda a estabilizar o açúcar no sangue, reduzir os desejos e evitar excessos alimentares ao longo do dia, tudo isso sem depender de produtos ultraprocessados. No universo da perda de peso, a saciedade é uma arma secreta, e a carne entrega isso naturalmente.

Além dos nutrientes: um apelo ao bom senso
Através do artigo, mostramos a crescente pressão sobre instituições, políticas alimentares e consumidores para adotarem dietas sem carne em nome da saúde e da sustentabilidade. Mas essas narrativas muitas vezes ignoram a ciência e desconsideram o fato de que carne não é intercambiável com lentilha ou tofu, especialmente para gestantes, crianças em crescimento, idosos ou quem busca melhorar a composição corporal.
Em vez de promover ideologias contra a carne, venho incentivando os formuladores de políticas a olharem para a ciência da nutrição, e a indústria da carne a melhorar suas práticas. Todos devemos considerar como integrar a carne vermelha a dietas equilibradas que respeitem as necessidades específicas de cada fase da vida.
A carne vermelha é parte essencial da alimentação humana há milênios. Sustentou o desenvolvimento do cérebro, apoiou a reprodução e nos acompanhou por todo o ciclo da vida. Removê-la ou demonizá-la, especialmente para quem mais precisa, não é apenas irresponsável do ponto de vista nutricional. É moralmente questionável.
Conclusão
carne vermelha não é a vilã. Para mulheres, gestantes, crianças, idosos e até para quem quer perder peso, ela é uma aliada nutricional, oferecendo nutrientes essenciais e difíceis de substituir em formas que o corpo consegue realmente aproveitar.
Devemos, sim, nos preocupar com sistemas alimentares sustentáveis e éticos, e há espaço para melhorias na indústria da carne, mas a saúde humana não deve ser sacrificada. Que possamos mudar a conversa para sistemas alimentares que cuidem tanto do planeta quanto das pessoas, além de manter a carne vermelha no lugar em que merece estar: no prato.